Caminhando a volta de Kalaw

Coloco todas as minhas coisas para lavar e quando vou tomar café
vejo que o dia está maravilhoso. Corro de volta para pegar meu short sujo mesmo e vou procurar o Min Min.

Encontro o Thutu e então acho que dessa vez seremos só nós dois. Não ligo muito e começamos a andar. Thutu fala pouco de inglês mas eu o incentivo e de repente estamos na casa do Min Min.

Conheço sua mulher Tara, e seu pequeno filho e eles me oferecem café. Tomo chá porque já tomei café da manhã e eu estou de chinelo porque o meu sapato tinha me Machucado.

Min Min me pergunta se quero fazer uma caminha exploratoria. Concordo e ele me diz para usar um sapato dele. E não é que uso e é um tênis muito melhor que o que tinha?

Andamos pelas montanhas de Chan. Subindo e descendo. Ele me diz que não sabe o caminho. E é maravilhoso. Andamos no meio da floresta, passamos por plantações e eu vou treinando o Thutu a falar inglês.

Paramos num vilarejo Palauoom e eu conheço uma senhora de lá incrível. Aprendo a falar obrigada na língua deles. Mostro fotos do André, da minha avó e dos meus pais e de Ubatuba. Tiramos fofos e tomo café e chá no mercado deles. 


Andamos tanto hoje. Muito mais do que no dia da caverna que o Thutu me conta tinha de área 330 km. Fico sabendo tudo da vida dele. Seus pais moram em Yangon e seu irmão mais velhos trabalha na Korea. Sua namorada está em Singapura. 

Andamos mais de 25 kms subindo e descendo as montanhas. Passamos por selva, por vilarejos e até estrada. Fez calor e chuva e foi incrível.

Cheguei agora e apesar de ter andado das 8 às 4:20. Dessa vez andamos muito mais e não me cansei nada. Paramos só uma vez. Andamos e falamos e me senti feliz de perceber que Thutu ganhava tanta confiança que ele que mal falava me conta muito da sua vida.


Seus pais queriam que ele estivesse trabalhando e ganhando mais dinheiro como os irmãos. Ele tinha estudado línguas e budismo. Sua namorada é química. O processo do namoro começa por pedir o nome. Ela recusa e depois dá. Faz 6 anos que estão juntos. E ela está desde de abril em Singapura e volta em janeiro. Eles se falam pela internet.

Pergunto se gosta do seu trabalho e ele me diz que adora. Seus pais não entendem mas para ele é muito bom andar e estar no meio da natureza. É mais importante que ganhar dinheiro.

Amanhã se o tempo estiver bom como hoje andamos de novo, se não depois de amanhã . Eu adoro meus amigos daqui 🙂 E já sei que tem que pagar aluguel do pequeno escritório July 7. Abriram em março e dependem de turistas.
Se vierem os procurem:

Facebook mister min min’s trekking tour

Site misterminmin.wordpress.com

Meu unico dia de Inle Lake que vira volta

Hoje pela primeira vez faltou Luz logo as seis da manhã. Tinha Lido sobre isso antes de vir para Birmania e não é que quando fui ver a maravilhosa doutora Euthymia numa quarta disse que tudo já estava pronto e me dei conta que faltava uma lanterna e então ela me deu um presente incrível! Uma lanterninha pequena que não precisa de tomada, de bateria, ela carrega com você virando a manivela. Eu achei um presente incrível. Hoje eu acho ele maravilhoso! Sem ele perderia meu horário das 6 da manhã .

O meu horário foi exato mas a moça do hotel tinha esquecido. Chamou o barco e lá fomos lá para o Inle Lake. Eu amparada de casaco, de guarda chuva e o moço do barco me dá uma capa de plástico. Tenho que abaixar minha cabeça para não levar muita água na cara.

Eu não ligo para chuva quando estou andando mas sentada no barco e a água e o vento vão batendo e vai dando um frio que acho melhor voltar. O coitado do guia diz para ir mais e eu não tenho coragem de dizer não.

Quando é tanta água caindo do plástico resolvo dizer para voltarmos. Digo que não é culpa dele. Prefiro não ficar resfriada. E ele me diz que me traz de volta depois.

Penso no meu pai dizendo que não gostou de Porto pois choveu mas quando voltou com sol gostou. Chego no hotel e resolvo que na verdade o que quero mesmo é voltar para Kalaw. Peço uma passagem.

Durmo umas duas horas e acordo com sol mas não tira minha vontade de voltar a Kalaw. Faço meu check out e venho almoçar no restaurante do hotel caro.


Que comida maravilhosa. Os aperitivos são de quatro tipos e com molhos cheios de tempero. Vou copiar minha refeição:
1: Appetizer

Rice Crackers with tomato salsa

Tofu fritters with deep soya

Shan Cheese roll with green salad

Roasted peanut with leak root crisp

2: Main dish

Avocado salad with mint and pepper

Salad of Shan Asparagus with stone flower Mushroom 

Diced tofu in tomato sauce

Stir-fried seasonal vegetable with soya

Creamy Butterfly Bean Soup

Kneaded Shan rice


Dessert

Pumpkin custard with strawberry sauce


Acreditem que tirando o Tofu e a sopa o resto todo eu comi. Os dois primeiros experimentei mas não comi todo.

A comida estava maravilhosa. E eu vestida de Tamei. E agora me falta uma hora de espera.

Graças a essa comida volto um dia nessa cidade quando o André vier. E seguirei as palavras do meu pai. Na época do bom tempo garantido.

O que mais gostei de ir a Inle foi a Estrada e as pessoas. A comida foi ótima mas a estrada é linda porque nela se vê de tudo. Toda verde. De pequenos vilarejos. De pagodas. E claro por onde passaram os ingleses tem trem. 

 E apesar do desperdício de dinheiro, e de ser tão turística na hora de ir embora eu já tava tão boa em falar micro palavras na lingua local que eles me respondem em Burmes e eu é claro rio porque eles me entendem e eu tenho que descobrir na adivinhação.

Ganhei carona até a rodoviária de um senhor. Lá fiquei amiga da vendedora. E quando perdi a minha passagem me falaram que não tinha problema. E mais uma vez estou sentada na frente do ônibus. E já tive micro conversas com os locais na língua deles. Eles riem de ver meu esforço. E realmente me entendem porque quando peço água eles me dão 🙂

O ônibus para e todo o meu treino faz a senhora do lado me chamar para descer. Os europeus que estão no ônibus não sabem se estão no ônibus certo. Tento perguntar e eles ficam meio cheio de preconceitos, desconsideram as pessoas que estão tentando ajudar. Depois de eu descobrir para eles fico impressionada que nem se quer agradecem os locais. 

Então como fico falando com os locais na hora que o ônibus para  e me chamam para descer vou. Vamos juntas, as mulheres ao banheiro, e na saída estão me esperando. Convidam-me para tomar o famoso chá que é de graça. E o senhor do meu lado me oferece a fruta quê comprou. Não tenho fome mas não posso dizer não. aceito.

É um casal do meu lado que me oferece essa fruta. E quando acabo de comer pergunto o que fazer com o caroço e não é que além de água nesse ônibus tem pequenos sacos de lixo. Realmente o que faz valer a pena essa viagem é a estrada cheia de pessoas daqui que são encantadoras.

E acabo de chegar em Kalaw e todos me dizem ” seja bem vinda”. E eu digo a verdade que adoro essa cidade. ” É a sua casa aqui.” Como é bom ter portos pelo mundo. Nong Khai é um, e Kalaw é o novo 🙂

Agora vou lá ver o Min Min 🙂

De Kalaw a Inle Lake.

Minha avó Lucia sempre diz que meu avô José Luís (que era professor da Poli) dizia que ela era burguesa e rotineira. E quando pergunto a ela o que ele achava dele mesmo ela hesita e acaba dizendo acho que “real e nao rotineiro”. Aparentemente meu avo era também muito pessimista.

Hoje quando me arrumava para partir faço tudo tão cedo que estou mais pontual que minha avó e portanto tenho tempo de café da manhã e até almoço. E me percebo na minha total falta de rotina sou rotineira. O primeiro restaurante que fui é o mesmo que voltei nos outros  5 dias. Percebo também que gosto muito de voltar no mesmo lugar.

Meu livrinho vermelho é conhecido por todos e é um baú incompreensível para outrem. Mas lá tem tudo que vou aprendendo. Por exemplo aprendi que se diz “naná me Julieta ” mas o min min me explicou que isso só se diz para pessoas da mesma idade ou crianças. Para eu ser educada devo dizer aos mais velhos “Djamá namê Julieta”

E não é que quando eu tiro o meu livrinho para dizer “Mingalaba” eu digo “Djama name Julieta” e a dona do restaurante fica encantada. Ela sabe que eu anoto tudo. Ela sabe que eu aprendi mais. E claro ela também me conhece de tantos dias e traz de repente Pimenta torrada com sal.
“É um presente”. 

Eu fico encantada. Faz dias que vou lá e ela sabe que eu adoro a banana. E ela sabe que eu adoro pimenta e me dá de presente algo que nem se quer está no cardápio. Algo que é dado de bondade , de atenção total. Como vou sentir falta daqui.

Estou no ônibus para Inlelake e junto com o adeus vem a felicidade de ver o novo. O ônibus é dessa vez confortabilíssimo. E a estrada é linda. 

Buzinas não param nunca e sentando na frente você vê que é para o motorista alertar as pessoas de moto. Quantas montanhas e laguinhos e pagodas.

Assim que chegamos a região de Inle Lake temos que pagar uns 13 dólares para entrar. Entro e desço do ônibus e digo Mingalaba a todos os guias de hotel e ando sozinha. Entro num hotel bem simples. Nele tem milhões de jovens  turistas vendo TV. 

Eu que já sei me apresentar, falar que falo pouquinho, cumprimentar impressiono as pessoas locais. Fica bem óbvio que no hotel estão aqueles tais turistas que passam correndo e no máximo aprendem a dizer Mingalaba.

Saio para andar e fico impressionada que tantos ficam nas cadeiras onde está a TV e onde a internet é melhor. Eu pego meu guarda-chuva e saio para andar. Depois de andar 10 horas ontem ficar parada um dia inteiro é demais. 

A cidade é claramente turística. Conheço o hotel mais bonito que custa 75 dólares e acho caro demais para ficar parado. Já reservei o meu passeio de barco para amanhã.


Já fui a muitas lojas e aqui todos os preços são em dólares. Todas as pessoas falam com vc em inglês e quando falo com elas na língua local se espantam. Me dá um certo desânimo.

Vou ao belo hotel para pelo menos comer. O gerente é suíço. O barman é local e me dá uma aula quando pergunto o que se passou quando os ingleses foram embora.
Em 1948 tomou poder o Unuk que era o primeiro ministro. Do lado da Índia, diz ele, vinha à influência da democracia, e do lado da China vinha o socialismo. Muitos estados querem virar independente e Unuk não dá conta.

Então em 58 o General Niwin toma o poder para o país não se partir. Em 62 esse General anuncia que não aceitam socialismo nem partições .

Em 1988 o General Sómó toma poder, depois em 1992 General Their Seir e apenas em 2010 que entra Thein Sein que depois é eleito.

Fico impressionada ouvindo o barman falar que graças a estes generais ( com nomes escritos como os entendo) é que o país se manteve junto e não comunista. 

Pergunto a ele se ele sente falta da Junta, o que tá claro para mim, mas ele como se espera diz que para ele é indiferente que governo está em poder. Conta que a eleição de Tinkyaw foi em 2015 e tomou poder agora em 2016.

Como no restaurante doces maravilhosos. Conheço duas Thais muito simpáticas e volto andando quando já é a noite.

Vamos ver como é o dia de amanhã. Por hoje já sinto falta de Kalaw. Amanhã saberei mais :)Não tem jeito minha avó sem fazer esforço me fez pontual, sem querer meio rotineira,e até meio burguesinha e como meu avô bem desorganizada. 

Min Min e o mistério da Caverna

Acordo e ligo para o cocoru ( que é o apelido que inventei para o André) e lá faz sol em Lima, falamos enquanto o sol se põe lá e aparece aqui. Incrível mesmo. Tanto lá como aqui tivemos um dia de sol.

As 8 da manha vou encontrar o meu novo guia. Ontem tinha tido a impressão que ele não sabia muito inglês mas não liguei muito. Que emoção enorme de ver o sol no céu. 

Chego lá e vejo Tahtu e para minha total surpresa seremos 3. Não, não havia mais um viajante, havia mais um Guia Min Min. 
De cara dizem que levam a minha mala. E eu digo que não é necessário ta leve. E então começamos a nossa caminhada.

Min Min falava super bem inglês e vai me explicando de todas as plantas que vemos. Tecnicamente era para irmos ver uma caverna budista mas de repente estamos no meio de muitas plantações. 

Eu fico encantada e nem pergunto nada de destino. Pergunto do que vejo. Vemos arroz, cenoura, barata, couve flor, tomate, manga, e mais um milhão de coisas.Min Min me conta que a população que vemos é Danu. Falo com as mulheres, tiro fotos e glaro pergunto ao Min Min oque ele acha do governo. 

“É muito no começo para falar. O que já dá para perceber é que cria novos impostos e taxas, cria uma divisão enorme de ricos e pobres e que é bom os para banqueiros”

Fico impressionada pelo comum que isso é no mundo. Pergunto a Min Min como é que ele fala tão bem inglês e ele me diz que trabalhou 18 anos com turistas.

Conto que amo a Ásia e ele me diz para eu descobrir de onde vinha a família do seu avô.India? China, Bangladesh? Tailândia, Laos, Camboja, Paquistão, Butao, Malásia, Indonesia, Singapura , Japão. E tudo é não 

Não sei mais o que falar e de repente sou inundada de emoção. No nosso casamento no ano passado eu e André escolhemos como presente doações para o Nepal. 

Nepal?

E sim ele é neto de nepalês e isso não é o mais surpreendente, pergunto como é como é que ele veio parar aqui.

” Meu avô era Gurka”

Para quem não sabe, a Inglaterra contrata nepaleses fortíssimos para serem parte do exército inglês. Pois bem, durante o império inglês por esses lados seu avô virou soldado e foi transferido para cá.

Com o final da colonização Britânica os Gurkas tinham a opção de voltar ao Nepal, ficar, ou continuar Gurka para os britânicos. Seu avô ficou e se juntou ao exército da Birmânia. Isto feito antes de 88.

Min Min tem 29 anos. Tem dois filhos e depois de 18 anos como guia começou em março a sua empresa de turismo. Ou seja, ele está ali treinando Tahtu. Ele não falava inglês mas faço tudo para e tende-lo. Faz 3 meses que ele começou a ser guia. Quero que ele se anime e eles são muito legais.

Portanto deles ainda aprendi mais. São 7 Estados. Cachin, Cayá, Cayin, Muun, Tchin, Rakai e Chan.
Burma ele me explicou é o nome que os ingleses colocaram. Na língua deles era mais Bámar.
Subimos montanhas e descemos e subimos e de repente vejo uma Pagoda imagino que seja ali.

.Miemathi é o vilarejo. E eu vou olhando e achamos o restaurante. Comemos , tomamos chás e então como estamos para entrar eu tiro sapato. Eu ainda não sabia oque se passaria. 

De repente estamos descendo e estamos entrando numa caverna. Bagan me emocionou mas essas caverna muito mais. Conforme você vai entrando são budas e mais budas. Dentro de caverna estalagmites, e você vai dando voltas e de repente vejo duas pessoas sentarem. Sento e fecho meu olho. Antes de pensar um mantra ouço um cantito de um mantra da voz de uma mulher. Fico em silêncio e lágrimas saem dos meus olhos. Fico ali apenas ouvindo. Em pura paz. Quando ela termina ouço a voz de um homem. Sinto me tão em paz.

Min me ensina que na tradição Mahayana devo tocar o “sino” sete vezes. Ali fica claro para mim que no momento que ele tinha dito que era Mahayana e não Theravada que não era exatamente daqui. Fico tão grata. Eu respeito todas as religiões. Mas dentro da tradição Budista os Tibetanos estão dentro da tradição Mahayana.

Andamos das 8 às 6. Andamos mais de 21 km. E como foi prazeroso. Tanto eu aprendi. Min Min ainda me convidou para jantar com sua mulher e seus filhos na casa deles e eu aceitei.

Uma chuva apareceu um pouquinho e eu tirei meu sapato e fiquei imunda. Depois de andar 10 horas achei melhor vir aqui e escrever, dormir e que esse maravilhoso convite ficasse marcado para a volta. Amanhã, dia 14, vou para Inle Lake mas já gosto tanto desses meus dois novos guias que vou e volto antes de voltar a Mandalay afinal em Kalaw já me sinto em casa.
O difícil de viajar assim é que se faz amigos. Tenho que voltar aqui para vê-los, para Mandalay para ver senhor Win e Lone Lone.  E dentro de você saudade não de momentos mas de pessoas. Então no 21 volto para Nong Kai fronteira Laos con Tailândia para ver meus amigos. 

Ps: 

1 . A lingua é diferente. Eu escrevo com acentos e letras de português.
2. Eu consegui escrever todos os dias. Para ver os outros é só entrar no início 🙂

Dos mistérios dos detalhes- Kalaw

Acordo antes das seis e olho lá fora e o sol brilha. Levanto e me senti tão bem que penso que não é boa ideia fazer nada. 

Café da manhã ainda não está servido então resolvo ir procurar meu novo guia. Também está fechado. Então resolvo andar um pouquinho pela cidade que está acordando.

Tem caminhões militares na rua. E ninguém parece preocupado. Volto para tomar café da manhã e sou a primeira.


De repente a intrigante família de um japonês com uma Burmeses e filhos chega. O pai só fala japonês, a mãe só fala Burmes e inglês e as meninas falam Japones e Burmes e um pouco de inglês. Tinha tomado café dos lados deles ontem e ficado encantada do tudo que se faz sem a mesma língua.

Encontrei as mulheres de Singapura. A menina me disse para não andar hoje. Para descansar e ir no Spa. Falei que o tempo estava maravilhoso.
E não é que o tempo volta a ficar coberto e resolvo pedir informações de massagem local e me contam de um massagista daqui. Para completar o confronto ele vem no hotel.

Chega um senhor e ele fala inglês e das minhas perguntas me conta que não é tradição de Burma fazer massagem mas ele aprendeu com o Avô através do caminho do Karatê.

Quem me conhece sabe que eu não digo não para nenhuma massagem. E já tive muitas diferentes. Das boas ou maravilhosas no Sul e norte da Tailândia, das Japonesas no Brasil, das Indianas na Índia e fora de lá. Chinesa, no Laos, no Camboja, no Marrocos. Enfim eu amo massagem.

Portanto, já tive feita por mulher, homem e até criança. Das discretas e as na vertente bem sexuais. Das do caminho no tantra. E pela minha experiência em Yoga, tantra, e praia nudista eu aceito qualquer uma e observo.

Essa hoje foi extremamente diferente. Se eu fosse tímida teria abandonado e achado que ele me tocava tanto na bunda e na virilha por desejo. No entanto, eu já tinha me intrigado quando estava de olho aberto e vi que ele fechava o olho e parava a minha circulação da perna esquerda. Na direita  ele passou mais tempo. Ia apertando em cantos mais específicos e de repente estacionava. Segurava por um tempo então eu perguntei “oque o senhor sente?”
“Que está bloqueado.”
Aperta mais um pouco e quando solta sinto o sangue pulsar fico impressionada. Conto para ele que tinham  enfiado um cateter ali faz 2 meses. Desse momento, em diante, na minha concepção de vida ele é médico.

Me vira pouco e basicamente segue a minha circulação. Pega pontos que não sabia que tinha. Como me impressiona ver que não importa o quanto eu ande, faça yoga eu sempre desconheço um pouco meu corpo.

Os pensamentos flutuam na minha mente enquanto ele toca tão intimamente e profundamente o meu corpo. Penso ” tudo bem se for sexual, eu não ligo.”
E percebo que no fundo à associação é porque eu penso nisso. Percebo o pensamento e fecho meus olhos e paro de analisar. Então eu de fato nao posso contar mais nada. Eu quase dormi enquanto ele me vasculhava, e me soltava ainda mais.

Nem sei explicar a parte de lado, ou sentada. Ou das dores. Tudo que sei é que esse senhor me disse que tenho muita sorte e eu concordei.

E quando ele partiu eu pensava que ele parecia o Lao Tse que aparecia e desaparecia e que provavelmente eu não o veria nunca mais.
Ele me falou uma frase ” o que está em tudo mas não sai do lugar?”
Eu disse a energia. E ele disse uma palavra que não entendi. 
“É a estrada.” 
E eu digo que tem lugar que nao tem estrada mas energia está em tudo..
Ele concorda mas escrevendo aqui me dou conta … É o caminho. Tao. Realmente ele é um Lao Tse.

Montanhas e Francisco

Estou no topo de uma Montana. Num restaurante aberto e vejo flores e montanhas e tomo chá. Faz neblina e eu as vezo , como as gotas, vejo com prazer. Não faz calor, não faz frio e às micro gotas mantém tudo isso tão verde.


Kimanhê tem 21 anos e faz 5 horas que estamos andando e conversando. Na verdade ele fala bem inglês. E a minha impressão de que tudo se transforma pelo respeito fica ainda mais forte hoje.


Foi agora buscar comida nesse restaurante, onde estamos que fica no topo da montanha e o restaurante ainda é Indiano. E eu já paro de escrever para conversar e comer com ele.  Escrevo o resto do hotel.

De fato parei sentei, falamos e comemos. Chapatis com sei lá oque. Estava muito bom. E mangas doces e banana e tomei mais chá.
Andamos por plantações de gengibre , laranja, arroz, e tantas outras coisas que estavam ali naquelas belas montanhas. E das quais ele foi me contando.


Passamos por dois vilarejos e ainda vi mais lugares budistas, pequenos aprendizes de budismo. A árvore que Kimanhê me explicou era a árvore Budista.


Kimanhê falava bem inglês e fico sabendo pelos 19 km de caminhada que ele é um estudante de direito. Está no quarto ano. Falta mais um. Sim ele sabe de tudo. E sua desconfiança do sistema parece mais fundamentada. 

Ele me explica que escolheu estudar a distância. Dois meses a cada ano vai à universidade e depois apenas tem que mandar cartas. Achei bem útil esse sistema.

Contou que muitas leis estão mudando e eu disse que isso devia anima-lo pois os advogados do passado vão estar ultra-atrapassadissimos. Ele se formava nos tempos novos. Ele ficou feliz.

Explicou da confusão que havia com uma província na fronteira com Bangladesh. Tem vontade de conhecer o Nepal.

Me ensinou mil coisas na língua de Burma. 

“Myanmar Lo Kiotéla. Nenê”

Mais ou menos não sei falar a língua de Myanmar, só um pouquinho 🙂

Ele me mostrou um lugar que tinha agrotóxicos e não eram vegetais orgânicos. Contou que não bebe, não fuma, não come tabaco porque tudo isso destrói a sua saúde.

Contou que no campo as casas colocam o banheiro para fora da casa. Ele prefere assim. Viver no campo. 

Eu fiquei maravilhada quando perguntei da Banana flambada que tinha comido. Ele me explicou.

“Queimada com álcool e mel. É um prato típico daqui.”


Adorei porque tinha adorado ontem e pensava que era só em lugar de turistas. Ele me explicou que sua mãe sempre faz.

Ele é sobrinho do dono da agência Green Discovery. E o tio é neto de um inglês que já faleceu e portanto o tio que conheci hoje fala inglês perfeito. 

A única coisa triste do dia foi ficar sabendo que que  Kimannhê ( que se escreve diferente , e eu coloco assim para lembrar como se pronuncia) parte hoje para uma outra cidade. Portanto resolvi amanhã ficar aqui e depois de amanhã ir ao lugar que ele me disse que era bonito e eu teria que ir com um outro guia. 

Por agora me sinto perfeita. Nem se quer fiquei ainda cansada. Amanhã já aprendi onde fica o lugar da massagem. Isso que eu farei! Já que meu hotel está pago até dia 14. Dia 13 outra caminhada e no 14 vou para Inle Lake.

Enquanto andava uma hora senti o exato lugar que entraram no meu corpo para fazer a angiograma. Na minha virilha direita. Senti e pensei no meu amigo Francisco da escalada.

Francisco me disse uma vez que ele tinha esclerose múltipla e que se eu tivesse não deveria ficar apavorada. Sei que uma parte minha ficou.

Depois um dia ele me contou que ter esclerose múltipla o fazia fazer escalada todos os dias. Ficar parado é privilégio para quem nao tem nada. Um dia parado e tudo se estagnava nele. De uma certa forma hoje quando senti a veia por onde entraram no meu corpo eu entendi acho que melhor o Francisco.

Quando não temos certeza do amanhã vivemos o dia de hoje plenamente. E na verdade ninguém devia não fazê-lo. E muitos se prendem pelo medo da coisa mais comum que há: a impermanência de tudo na nossa vida.

Então Francisco eu te agradeço hoje. No final a sua esclerose e a minha vasculite cerebral nos libertou. Desejo a todos que se libertem de medos e das inseguranças que são 90% do tempo desnecessárias. Eu agradeço a todos porque me sinto tão viva. Tão bem. Tão privilegiada. Que só posso agradecer.

Com amor, Ju

Kalaw, as crianças e o meu primeiro dia em Shan.

Acordo as 4 da manhã porque ontem dormi as 8. Cedo demais e fico na cama e falo pelo face talk com minha avó que adorou meu ultimo post e o lugar que estou ficando e me informou que seu IPad quebrou.

Na hora do café saio para passear. Chove e graças ao conselho e o presente utilíssimo da minha mãe tenho otimo casaco de chuva e guarda-chuva. Meus pais ainda que de filosofias diferentes da minha também gostam de viajar e caminhar e são cento e cinquenta mil vezes melhores caminhadores que eu. Hoje mesmo me mandam fotos. Estão andamdo e subindo pedras na Itália.

Minha mãe nasceu em 47 e está subindo pedras. E eu tomando chá 🙂

Saio passeando e nem penso primeiro em entrar nas lojas. Paro na frente de uma escola porque vejo muitas crianças rindo . Passo quase 15 minutos olhando e uma hora uma menina diz “Hello”. Começo a dar olas e mais criança vem me ver. Eu fico do lado de fora fazendo sinais para as crianças que depois de muita vergonha quando uma diz “Hello”mandam beijos.


E eu lá debaixo de um guarda-chuva digo “umbrella ” e elas repetem e mandam dessa vez são beijos voadores. Elas têm uns 6-7 anos. Não tenho coragem de entrar porque não vejo a professora. 

Sei que ficamos ali brincando por quase uma hora. Eu mostro um dedo e elas sozinhas sabem contar até 10. Elas sabem dizer “goodbye” e fico mostrando partes do rosto e os nomes e elas repetindo. Realmente não dá para explicar como é divertido e me lembra eu dando pseudo-aula de Inglês em Isaan.  Essa foto debaixo é de Isaan.

Isaan é a província mais pobre da Tailândia. Na verdade antes era Laos por isso até meu pouco Tai era inútil e lá só a Horm que falava um pouco de inglês. Lá eu fiquei um mês e foi a minha primeira vez no sudeste asiático em 2009 sem poder falar bem com ninguém. Foi maravilhoso.

Engraçado pensar nisso enquanto eu faço quase igual o que fiz com as crianças de Isaan. Isso me resgata o passado e o princípio do meu amor pelo Sudeste asiático. Resgata em mim a memória da menina Australiana jovem que ia a Birmânia e lembro que foi lá em Nong Kai que me deu vontade e vocês sabe nunca dava certo.
Não sou supersticiosa e mesmo 3 sendo o meu número favorito eu não decidi que não era nessa vida. Quando deu muito errado na terceira vez. Tentaria a quarta.

Quando paro debaixo de chuva dando risada com as crianças que falo para ficarem cobertas eu me sinto grata que não tenha dado certo antes. Hoje eu estou consciente de cada ato que me é dado. Antes não seria tão especial como agora.

Sinal de aula começar. Mando beijos voadores e ando ainda mais. Como estão felizes essas crianças. Vou andando e entro em mercado de comida, de flores, de Tamei e Long Ji e esses são feito à mão e são dessa província Shan.

Compro mais Tamei e Long Ji. Um casaco para minha avó, e uma blusa. Uma bolsa. Eu que nunca compro nada viajando fico encantada por essas coisas feitas à mão. O vendedor me dá de presente o símbolo daqui. Aqui naturalmente tem Pagodas, mas também tem Mesquita e para minha surpresa um templo Sikh. E eu caminho vestida como uma mulher daqui.

Ando ainda mais e tem um milhao de agências. Escolho a esmo uma agência. O menino parece desanimado. Não confia nesse governo .. Mas falo tanto com ele que ele me conta dos turistas. Tudo que eu já sabia. Aqueles que pensam que dinheiro compra tudo.

Decidi que fico aqui até dia 14 aqui em Kalaw. Amanhã vamos caminhando para uns vilarejos. Caminhada de poucas horas e voltamos e se tudo transcorrer perfeitamente nos outros vilarejos também vamos caminhando nos dias seguintes. 


Ou seja estou estacionada para dormir no meu belo hotel. O guia se chama Kimá Inhê ( como eu aprendi)

Dele eu aprendi ” Tuijátá-uãtá-patê”

Foi um prazer te conhecer. 
Graças ao meu livrinho vermelho e ao senhor Win ele sabe dizer Julieta. Na língua daqui é assim:


E um dos grupos tradicionais de Shan vejo numa foto se veste assim.

Direita e Esquerda, caminho a Kalaw e a culpa

Essa história vai ser da viagem ônibus de Mandalaypara Kalaw. Antes de ir penso nos três ônibus que tomei. Só no aberto não passei frio. Pergunto ao atendente do hotel e ele diz que não faz muito frio. Pergunto se é aberto, ou se tem Ar condicionado.

” claro que tem AC.”
“Obrigada vou levar mais roupa.”
” não precisa não faz muito frio.”

Como sou super friorenta eu coloco calça comprida e coloco meia calça de inverno que é a que eu usei no avião e todas as noites pois sem ar passo calor, com Ac passo frio e ventilador também. Saio de manga curta e coloco nas minhas duas bolsas blusa de manga cumprida, malha , lenço e meia.

Desse lado do mundo, muito dos carros são estilo britânico o motorista senta do lado direito. Lembro que com quinze vi a primeira vez na Austrália e me deixou até enjoada a curva ao contrário. Depois fiquei acostumada. Vendo alguma foto que postei o André reparou isso.

Agora em Burma todos que eu tinha visto eram assim menos esse. Nessa minha van o motorista está do lado esquerdo. Fico tão intrigada e resolvo olhar mais carros. E não é que tem dos dois tipos aqui. Intrigante.
Percebo isso quando tenho que colocar meia, blusa, lenço e casaco. E percebo que sou a única ocidental. Tinha colocado meu lenço na cabeça e dormido. Acordo quando o ônibus já tinha pegado todos seus passageiros e já estamos na estrada.

Todo mundo está com véu na cabeça. E está dormindo. Não estão de véu porque são muçulmanos. Estão com frio. 

Acordo bem na hora que estamos para parar. Então posso ver meus companheiros de viagem. 
Somos 9 passageiros e o motorista. Tem um monge, 4 mulhere de Tamei, e eu de calça. 3 homens de Long Ji, um de calça. E o motorista eu não sei. Quase todos estão de chinelo.
Paramos vamos ao banheiro. E vejo que vamos comer. Olho um prato de uma senhora e tento perguntar em Burmes e ela sabe falar inglês. Digo que quero o mesmo.


Vem arroz com batatas, vegetais, é um milhão de coisas que não sei o que é e como e acho maravilhoso porque é apimentado. Antes de eu pedir algo para beber a senhora me traz um bule e eu mais uma vez fico radiante.

Todas as vezes que almoço em restaurante com a minha avó e pedimos uma caipirinha e um chá. Trazem o chá para minha avó e para mim a caipirinha. Rimos e trocamos. Minha avó me explicou há séculos que chá é uma planta específica, que hortelã não é chá é hortelã. 

“O certo é você pelo menos saber que é uma infusão de várias folhas. Não precisa pedir porque fica muito pedante. Mas chá é a folha do chá.”

Pois é dessa infusão que me trouxeram eu não tenho a menor ideia o que seja. Sei que gosto dela porque gosto de agua quente. Lembro que foi no Sahara que o guia me disse que era bobagem beber água gelada. Não sei se é por falta dela ou não mas a sua explicação era:  Água gelada esfria o seu corpo e em segundos o seu corpo tem que gastar muita energia para se esquentar. No deserto não podemos perder energia assim.

Seja qual é a razão, sei que faz anos que prefiro não beber nada gelado e preferencialmente quente. E pelo Brasil é meio difícil de explicar isso. Comecei a beber água quente na China com minha amiga Pet que é de lá. Aqui nem preciso pedir. Tudo isso, bebida, comida por 1000 kyiat. Menos de 1 dólar.

A estrada está linda. Estamos dando voltas e mais voltas numa montanha toda cheia de árvores. Difícil de tirar fotos. Curva atrás de curva. E eu encanta quando percebo que o menino de trás abre a janela. Um local abalado e eu super bem.

Eu penso em emprestar a ele tagger balm ( creme de cânfora) e me lembro que já dei para seu Win que tava com dor no braço. Ele ficou tao feliz de usar que eu dei a minha. Senhor Win não tem muito dinheiro para comprar eu acho. Nem eu vi por aqui como vejo na Tailândia. Para esse menino do ônibus pelo menos tenho papel higiênico para ele se limpar e ele me agradece muito. 

De repente o ônibus para e vem um menino me perguntar se já tenho hotel. Digo que não e ele me aponta um barato de 10 dólares. E eu pergunto do hotel na minha frente ? 
“Custa 30 dólares. ” 

Ele me diz que tem internet , tem café da manhã. Nem vou procurar outro. Pego de cara esse e me dão um quarto lá em baixo por preço baixo. Vejo que a internet não é no porão. E o primeiro está lotado. No terceiro a internet não funciona. 
Ela me troca pela terceira vez e diz que esse custa 40. Eu digo que vou embora. Essa é a primeira vez que algo assim se passa. Eu me espanto. Ela diz que faz 30 e quando me traz ao quarto fico espantada. O quarto é umas dez vezes melhor que todos os outros. E agora já até sei que a internet é veloz!

Tem cama, cadeiras, televisão, frigobar, abajur, penteadeira, águas, um bule eletrônico, chás diferentes. No banheiro tem até banheira, chuveiro, secadora. Deve ser o melhor hotel daqui. Quando abro a cortina vejo a avenida, a Pagoda, as montanhas e os passantes. Que lugar lindo.


De fato, se existem muitas vidas eu estou sendo presenteada de uma maneira que só um budista entende. Ao mesmo tempo leio que os tão presenteados do Morumbi querem aplaudir a polícia que matou uma criança de dez anos. 

O que será que se passa conosco? Diante de tantos privilégios não apenas somos indiferentes aos outros mas temos a audácia de não reconhecer que tudo que temos vem pelo menos dessa vida de boa educação, de amor, de bom material genético, de boa alimentação?

Eu já até passei a acreditar em outras vidas. Não por medo mas pela gratidão e reconhecimento de algumas pessoas que vejo por poucos segundos e sinto que as conheço faz tempo. 

Então eu sento aqui para escrever. Ligo meu bule elétrico. Sinto me feliz de poder fazê-lo ainda que num telefone e sem editar, por nem saber fazê-lo. 

Ainda que meus pais e eu sejamos tão diferentes eu sou grata por eles terem me feito por objetivos tão distintos tão forte. Meus pais fizeram o que eles achavam que era o melhor. No entanto, quando embarquei sozinha eu fui a cada dia me descobrindo mais. Sou grata ao André o homem dos atos que mal me lê. E agora. Eu já nem ligo mais. Sou grata por ele saber e apoiar eu ser assim como sou. E acima de tudo sou grata a minha avó Lucia que sempre permitiu o outro ser quem ele é. Sempre apoiou.

Aos 91 aprendeu a me ligar sozinha de face talk, de um Whatsapp para saber como eu estou e contar que gostou muito do senhor Win. E me perguntar porque só no 21 pode falar comigo. Então eu entro nesse maravilhoso hotel graças à minha avó. Me eximo da culpa pensando na minha avó. E indo bem a fundo reconhecendo que podia ficar no lugar mais barato mas hoje eu não preciso. E me eximo mais fortemente quando isso não me torna uma pessoa deslumbrada, egoistas e indiferente a todos. E quando vou mais a fundo percebo, que não tem jeito, eu sinto um pouco de culpa, mas também gratidão.

Senhor Win me leva ao Jardin Botânico 

Nem sei por onde começar de um dia tão perfeito. Talvez do ônibus simples que é uma história sozinha. Como tinha escolhido o método mais barato senhor Win me leva ao ônibus aberto.

Desses que tem na Ásia e acho que na Venezuela. Difícil de explicar . É como se fosse dois bancos um na frente do outro. As costas para a estrada é aberto. Chegamos e esperamos ficar lotado. De coisas e pessoas. 

Quando se está totalmente lotado ainda aparece mais uma mãe com duas pequenas crianças. Assim fica claro os valores daqui. O menino de no máximo um ano senta numa caixa e a mãe distraída não vê. O homem desconhecido ao lado se aperta e pega a criança e coloca ao seu lado. Ninguém reclama de falta de espaço.

Eu claro peço para tirar fotos e eles dizem sim. De repente uma menina fica muito intrigada com senhor Win e ele me explica que ela trabalha para os koreanos e quer saber como é que ele fala inglês tão bem. Ela fala Burmes, Chinês e Koreano.

Bom de cara ele me explica que não é só a China e a Tailândia que investe aqui mas também a Korea e o Taiwan. E de cara pergunto a mesma pergunta que a Menina tinha perguntado ao senhor Win. 

” Meu pai era tradutor dos ingleses durante o império inglês. Eu estudei matemática mas o que eu amo é a língua inglesa. Meu pai me ensinou aos quatro anos.”

Fico impressionada. Eu na verdade nem sabia onde íamos. Eu tinha concordado porque gosto do senhor Win. Nosso pequeno ônibus vai subindo uma bela montanha, parece uma serra. E eu amparada tenho duas bolsas. Casaco de chuva , guarda chuva e uma blusa de frio. 

Conforme vamos chegando vou vendo uma cidade colonial, casas europeias que agora pertencem aos chineses. O lugar é muito bonito pelas casas e pelo verde e por ser no alto de uma serra.

Até então nunca tinha perguntado ao senhor Win onde iríamos e ele me avisa que é num jardim botânico. Minha mãe que ama jardins botânicos teria ficado encantada. Aquele jardim inglês com os detalhes da Ásia. 

Há Lagos, árvores, cisnes , pássaros. Chineses e Burmeses. De ocidental só tem eu. Tem lugar para tomar chá e café. Comer . Se eu já não tivesse me inundado na micro parada da comida local comeria no entanto sento e converso com seu Win e tomamos chá e café.

Tiro meu livrinho de anotações para escrever tudo que eu pergunto e ele responde. É realmente tem coisa demais para eu contar então vou focar no ponto: a jovem democracia.
1948 a junta tomou o poder e os britânicos partiram. Em 2011 houve eleições que deu poder por votação ao General Thein Sein. De cara todos sabiam que era fraudada a eleição. Mudava de cor de verde militar para falsa democracia.

Em 2016 ganha por enormidade Tinkyaw que senhor Win diz é honesto, simples, filho de um escritor famoso. Ele fundou com a Su Ki o partido da liberdade.
” Por isso falamos e eu digo que nossa democracia é jovem.”
Fico emocionada ouvindo senhor Win contar. 

” Julieta você deve ter sido muito boa nas suas outras vidas porque seus sonhos se realizam. Acho que você deve ter nascido na Birmânia antes.”

Digo para ele que quando como na Ásia eu penso isso. Conto dos Tibetanos. E ele me conta dos Theravada.

” Julieta faz 3 dias que nos conhecemos. Seu número favorito é o dia está perfeito.”

De fato, conto a ele que minha avó tinha dito que eu tinha tanta expectativa de vir que talvez me decepcionasse. No entanto, todos os dias eu me sinto grata. Todos os dias eles me parecem perfeitos. 

Sem duvida queria que o André estivesse aqui. Eu olho as coisas pensando que ele gostaria. Sem duvida sinto saudade da minha avó mas me sinto feliz.

Saber que eu cheguei aqui junto com a felicidade do povo me inunda ainda mais de alegria. 
Amanhã parto para Kalaw e depois para o lago Lake. Se não escrever é porque não têm internet. De qualquer maneira se desaparecer até o dia 21 só se preocupe no dia 21.

Estou feliz e me sentindo muito bem.

Já me sentindo em casa em Mandelay.


Hoje é o sétimo dia 🙂 O meu plano era ver o palácio real. Era porque resolvo pelo menos dizer bom dia ao senhor Win.

Ando livremente e tenho anotado que é na rua 31 com a 84. E vou virando e virando e vendo uma loja atrás da outra de telefone, eletrônico, comida, roupa etc e tal.  Vou pedindo se posso tirar fotos das pessoas. Todas dizem sim. Mostro para elas depois.
Estou na Mandalay antiga. Para ser honesta não tirei fotos da parte nova. Fico encantada com a parte antiga, o trânsito maluco de motos, pessoas e ônibus. E a cada esquina me perguntam se quero um táxi. 

E eu sorrio, digo ” Minga Lá Bá”. Um bom dia, tarde noite. Faço gestos que gosto de caminhar. Eles sorriem e me perguntam para onde é que vou e se tenho destino digo e eles sempre me ensinam o caminho.

“Tchê Su Bê”

E não é que estou hesitando se vou primeiro  ao palácio ou ver seu Win e ouço “Julieta”

Estou passando perto deles e nem sabia. Fico radiante. É tão bom ser reconhecida. Então começa mais história. E eu desisto de ir no palácio porque senhor Win me explica que é bonito por fora, 10 dólares para entrar num espaço militar. 


Ele me explica que ele está de jejum no dia de hoje mas que os meninos  estavam me esperando chegar. Eu fico tão inundada de felicidade que abro meu post e traduzo o que eu escrevi e ele fica muito feliz e diz que de errado só o nome do irmão da Su Chi que se chama Au San U e não Au San Ku 😉

Os meninos vem me falar do Dunga, robaldinho, e eu digo que gosto do Messi. E ele mal entende inglês menos ainda eu torcer para a Argentina 🙂

Senhor Win me diz para lavar as mãos já que vou comer como eles. Sento e acho que vou ganhar todo peso que perdi doente e mais um pouco pelo tanto que gosto da comida.

Falamos de política. “A democracia é jovem aqui.” E ele vai me surpreendendo mais e mais quando fala que do lado do capitalismo parece para ele que só existe para os ricos, e o mundo financeiro. “A China não é perfeita , nem é os EUA mas pelo menos tem mais equilíbrio dois lados poderosos.

Eu também percebo que a Tailândia e a China seja lá por qual interesse permite que agora aqui todos possam saber do resto do mundo. 

” A democracia é jovem mas agora nos falamos mais e temos esperança.”

Senhor Win perdeu a mãe com 84 anos e no último ano morou com ela. Tão caro foi o tratamento que ele agora mora com os monges. 

Se oferece para me levar para ver os lugares bonitos. Sugiro maneira barata e ele consulta um menino que diz para irmos de ônibus. 

Concordo e pergunto quanto eu dou para ele ser meu guia. ” Nada.” Insisto a comida, o transporte faz dois dias que como aqui!!! 

“Julieta , ótimo. Você gosta do meu país, você fala com as pessoas. Quero que se lembre bem daqui. Vamos tomar sorvete hoje as 7?”

Concordo é claro. E amanhã embarcamos para o topo da montanha do lado e eu pago a comida para ele. Amparada por seu Win que sabe de um tudo e volto para esse hotel. 

“Senhor Win vamos e voltamos e no outro dia eu vou para Kalaw e Inle Lake. Quando voltar fazemos o que o senhor achar boa ideia.”

” Sorvete as 7 e agora você devia fazer uma siesta. Importante depois de comer.”

Chove torrencialmente e eu coloco meu guarda chuva e vou para a sorveteria mesmo assim. Chego 5 minutos antes. Se não tiver lá eu entendo.

Mas nem ele , nem eu temos medo de chuva. E ele me encontra só para beber água. Está de jejum hoje 🙂 E amanhã devemos estar com saúde perfeita.

Pergunta se preciso comer. Digo que não. Diz para eu trazer um casaco de chuva, um guarda chuva e me explica a rota. Conto a el a história do russo. Ele também leu Dostoyevski. 

Julieta amanhã eu vou te contar a minha história. 

Como eu gosto do Senhor Win!