Minha avó Lucia sempre diz que meu avô José Luís (que era professor da Poli) dizia que ela era burguesa e rotineira. E quando pergunto a ela o que ele achava dele mesmo ela hesita e acaba dizendo acho que “real e nao rotineiro”. Aparentemente meu avo era também muito pessimista.
Hoje quando me arrumava para partir faço tudo tão cedo que estou mais pontual que minha avó e portanto tenho tempo de café da manhã e até almoço. E me percebo na minha total falta de rotina sou rotineira. O primeiro restaurante que fui é o mesmo que voltei nos outros 5 dias. Percebo também que gosto muito de voltar no mesmo lugar.
Meu livrinho vermelho é conhecido por todos e é um baú incompreensível para outrem. Mas lá tem tudo que vou aprendendo. Por exemplo aprendi que se diz “naná me Julieta ” mas o min min me explicou que isso só se diz para pessoas da mesma idade ou crianças. Para eu ser educada devo dizer aos mais velhos “Djamá namê Julieta”
E não é que quando eu tiro o meu livrinho para dizer “Mingalaba” eu digo “Djama name Julieta” e a dona do restaurante fica encantada. Ela sabe que eu anoto tudo. Ela sabe que eu aprendi mais. E claro ela também me conhece de tantos dias e traz de repente Pimenta torrada com sal.
“É um presente”.
Eu fico encantada. Faz dias que vou lá e ela sabe que eu adoro a banana. E ela sabe que eu adoro pimenta e me dá de presente algo que nem se quer está no cardápio. Algo que é dado de bondade , de atenção total. Como vou sentir falta daqui.
Estou no ônibus para Inlelake e junto com o adeus vem a felicidade de ver o novo. O ônibus é dessa vez confortabilíssimo. E a estrada é linda.
Buzinas não param nunca e sentando na frente você vê que é para o motorista alertar as pessoas de moto. Quantas montanhas e laguinhos e pagodas.
Assim que chegamos a região de Inle Lake temos que pagar uns 13 dólares para entrar. Entro e desço do ônibus e digo Mingalaba a todos os guias de hotel e ando sozinha. Entro num hotel bem simples. Nele tem milhões de jovens turistas vendo TV.
Eu que já sei me apresentar, falar que falo pouquinho, cumprimentar impressiono as pessoas locais. Fica bem óbvio que no hotel estão aqueles tais turistas que passam correndo e no máximo aprendem a dizer Mingalaba.
Saio para andar e fico impressionada que tantos ficam nas cadeiras onde está a TV e onde a internet é melhor. Eu pego meu guarda-chuva e saio para andar. Depois de andar 10 horas ontem ficar parada um dia inteiro é demais.
A cidade é claramente turística. Conheço o hotel mais bonito que custa 75 dólares e acho caro demais para ficar parado. Já reservei o meu passeio de barco para amanhã.
Já fui a muitas lojas e aqui todos os preços são em dólares. Todas as pessoas falam com vc em inglês e quando falo com elas na língua local se espantam. Me dá um certo desânimo.
Vou ao belo hotel para pelo menos comer. O gerente é suíço. O barman é local e me dá uma aula quando pergunto o que se passou quando os ingleses foram embora.
Em 1948 tomou poder o Unuk que era o primeiro ministro. Do lado da Índia, diz ele, vinha à influência da democracia, e do lado da China vinha o socialismo. Muitos estados querem virar independente e Unuk não dá conta.
Então em 58 o General Niwin toma o poder para o país não se partir. Em 62 esse General anuncia que não aceitam socialismo nem partições .
Em 1988 o General Sómó toma poder, depois em 1992 General Their Seir e apenas em 2010 que entra Thein Sein que depois é eleito.
Fico impressionada ouvindo o barman falar que graças a estes generais ( com nomes escritos como os entendo) é que o país se manteve junto e não comunista.
Pergunto a ele se ele sente falta da Junta, o que tá claro para mim, mas ele como se espera diz que para ele é indiferente que governo está em poder. Conta que a eleição de Tinkyaw foi em 2015 e tomou poder agora em 2016.
Como no restaurante doces maravilhosos. Conheço duas Thais muito simpáticas e volto andando quando já é a noite.
Vamos ver como é o dia de amanhã. Por hoje já sinto falta de Kalaw. Amanhã saberei mais :)Não tem jeito minha avó sem fazer esforço me fez pontual, sem querer meio rotineira,e até meio burguesinha e como meu avô bem desorganizada.