Venezuela- Da escassez e da generosidade

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Hoje eu acordei aqui em Santa Elena Uairen e fui tomar café numa pequena padaria. Nosso hotel era longe do centro e já havia decidido que tomaria café ali perto mesmo e mudaria para o centro.

Andamos tranquilamente vendo uma cidade funcionando normalmente. André constatou que o preço alto da gasolina no Brasil talvez ajudasse a qualidade do ar, por fazer as pessoas comprarem carros mais econômicos. Aqui os carros sao velhos e a gasolina custa mais ou menos um real para encher o tanque, o que no fim deixa o ar muito poluído.

Na padaria fomos muito bem atendidos. O café era forte e sem açúcar, como queríamos. Comemos pão com queijo derretido e constatamos que também não faltava aqui. A padaria era simples, não luxuosa como a que vimos no centro. Tudo estava ótimo e todas as pessoas lá eram locais.

Ao nosso lado havia uma mulher com uma menininha. De repente apareceu um senhor e deu à menina um sorvete. A mãe disse a ela que aceitasse e agradecesse. E assim ficou claro que nem se conheciam.

Perguntei à menina seu nome e sua idade. Disse que se chamava Juliana e que tinha 5 anos. Então disse que ela tinha muita sorte de ganhar um sorvete daquele senhor. Sua mãe explicou que ela tinha pedido aquele sorvete e que ela, a mãe, tinha dito:

“Agora não.”

Por isso ela explicou que o senhor tinha dado a ela. Deve ter imaginado que eu não podia comprar. Ela a mãe, ainda insistiu para a filha:

” agora não só depois de tomar café da manhã. Não dá para comer só coisas doces a toda hora. ”

Achei bonitinho perceber que o senhor local tinha comprado aquele sorvete sem saber toda a filosofia da mãe sobre a importância de um bom café da manhã.

Então voltamos ao nosso antigo hotel, fizemos a mala e caminhamos até o centro. É longe, não fazia calor demais, e nem tampouco vimos qualquer tipo de violência. A vida transcorria naturalmente.

Quando tive acesso mais uma vez a internet recebi uma mensagem da minha mãe me perguntando como estávamos aqui e mandando um artigo para me informar do que se passava por esses lados.

“Lojas fechadas por causa da violência em Santa Helena.”

A noticia vinha de um jornal de Boa Vista. Andamos na rua muitas vezes e de fato as lojas fecharam uma hora para reabrir depois do almoço 🙂

Depois de andar por tudo que é canto e perguntar a todos. Um senhor se espantou com a tal noticia. Disse que isto só podia ter sido em Caracas.

Lembrei do documentario ” La revolucion no sera televisionada.” Depois pensei em tudo que dizem sobre a Palestina  e pensei que se não fosse tão sério seria hilário.

Por isso a cada dia confio menos nas notícias do jornal que sempre tem simplesmente reportado o que parece só satisfazer a política dos poderosos da vez.

Depois que eu escrevi meu post minha mãe me explicou que esse artigo era antigo.

Voltei então a rua e finalmente vi uma experiência “violenta”. Fomos comprar um chip de celular. Os privados estão esgotados. Só nos restava então ir à companhia estatal.

Ali sim me pareceu violento, parecia o que deveria ter sido a União Soviética. 2 funcionários para atender. Os dois maltratando os consumidores. Fizeram um deles até por impressão digital para assinar um contrato. O outro que aparentemente já tinha linha, teve que ficar ouvindo o funcionário reclamando bravo que ele , consumidor estava reclamando só porque a linha não tinha chegado! Só fazia 15 dias que ele tinha assinado! Nessa altura já tínhamos desistido de comprar a nossa e só ficamos para assistir o final do espetáculo. Longo e barulhento demais, partimos.

De volta ao hotel vimos gente que voltava do monte roraima.  Exaustos. Aqui também estava faltando água. O rio nos explicaram está mais baixo. Agua veio de um caminhão.

Pergunto ao Venezuelano. Sempre foi assim?

“No todo está se quedando mucho peor en Venezuela. Todo es muy barato, pero no hay”

Não vimos violência nas ruas, só a comum indiferença daqueles que não devem poder perder trabalho. Em geral a gente é como sempre, muito boa. Vejo tudo isso entoando em minha mente

“E eu que não creio peço a deus por minha gente. É gente humilde que vontade de  chorar.”