Cheguei em Nova York alguns dias antes de 11 de setembro. Na minha natural vontade de falar com todas as pessoas logo de cara eu já era amiga de pessoas do mundo todo. Muitos deles eram do mundo muçulmano então quando caíram as torres em vez de desejar a morte de todos os muçulmanos eu me perguntava o por que aquilo tinha se passado.
Lembro-me bem que fazia um belo dia, da minha amiga Caroline Suíça que vinha me contar do evento. Ela apavorada que seu pai que trabalhava para Unesco. Lembro de dizer que aquilo era provavelmente uma historia mal contada e de ver ao seu lado na televisão a segunda torre ser atacada. Lembro de apesar ter 19 anos dizer para ela. Não se preocupe, seu pai é muito importante para estar lá essa hora.
Eu que fui para estudar cinema graças ao Felipe Gamarano Barbosa, mas sai bem rápido de interesse em cinema para me dividir pelo meu encanto pela musica e pela politica do Oriente Medio. Como nos Estados Unidos você meio que tem liberdade e obrigação de pegar aula de muitas áreas. E assim cai na aula descolonizando a mente. Ensinada por Mustapha que considero até hoje o meu melhor professor, o homem que mais tinha mais capacidade de transformar o outro que já conheci. Aquele que sempre dava ao outro a capacidade de mudar sozinho.
Das ironias vida foi graças a Jocelyne que conheci o Mustapha. Jocelyne é americana e seu pai diplomata e quando seu pai foi transferido para Burkina Faso ela ficou numa escola interna fora de Burkina Faso pois os EUA não recomendavam levar crianças para esse lado. Mustapha Masrour é meu amigo até hoje e Mustapha é Marroquino.
A vida é tao bela e complexa que eu cheguei num pais que se inunda de guerras ilegais e absurdas e eu acabo me tornando amiga de Leila Alaoui. Morávamos as 3. Leila, Jocelyne e eu. Pela Jocelyne eu e Leila fomos parar na aula do Mustapha. E o tempo continuou.
Quanto mais eu me interessava pela ciência e pela politica, pela filosofia, antropologia, historia mais eu ia me convertendo num ateísmo fundamentalista. Quando ia ao Brasil até queria convencer minha avó a ler os livros ateus. Ela os lia e dizia “tem tantas cores não precisamos gostar da mesma. Tudo bem de você ser ateia e de eu acreditar em deus.”
Esse longo post é para explicar porque faço agora uma página no facebook do meu blog que se chama descolonizando a mente. Sei que por eu ter chegado num principio de guerra, de ter visto o que se passa em tantos países onde houve lutas. O valor pela luta se desfez em mim. Associou-se a destruição, estimulo de ego e uma perda enorme há muitos.
Eu sempre escrevia e-mails coletivos e a lista foi ficando tão grande, e as pessoas me pediam para mandar o que tinha visto quando fiquei na casa de palestinos, de indianos, e da kashemira, na Ásia que coloquei muito em dois blogs.
Tenho em inglês, e em português. Do meu celular não conseguia mandar sempre nas listas, mas conseguia tag, e do Peru nem isso consigo. Então resolvi criar essa pagina onde os colocarei. Fiquei muito impressionada de saber que tantas pessoas me liam. E grata.
Sinto que precisava explicar o porque o do descolonizando a mente. E isto tem a ver a cada dia com mais coisas. O nome é pelo Mustapha. Quem me levou a ele foi a Jocelyne e ela me levou também aos Tibetanos.
Leila Alaoui foi morta em Burkina Faso nesse janeiro. Leila é minha amiga. Seus atos vão muito além do que está escrito nas mil matérias de jornal. Leila assim como a Jocelyne não via diferença entre as pessoas. Não sei quanto disso já veio de antes mas sei que muito disso vem de uma solidão que nos três sentíamos, da tristeza que foi para nós três vermos guerras se darem, destruições de culturas, famílias, de sonhos.
Sei que Burkina Faso, ou mais especificamente Ouagadougou também é uma coisa que nos liga as 3. Jocelyne ainda criança foi afastada de sua família quando seus pais moravam lá, Leila foi tirada com 33 anos dessa de lá quando tentava defender os direitos das mulheres pelas suas belas fotografias, e de mim também é um segredo vergonhoso. Era a senha de um e-mail mais secreto do que tantos outros. Era Ouagadougou. Era a senha de tudo que era conta falha que eu tinha criado e que já desfiz. Como poderia eu escrever mais uma vez Ouagadougou no mundo do segredo?
Esse post é para explicar que o ato mais de tentar me descolonizar é confessar isso. Reconhecer a falha é mais fácil do que aceitar o mistério de Ouagadougou. Sei que pelas mãos de Leila, Joce, Mustapha e eu estão as crenças e culturas de África, Américas, Ásia e Europa. Nesse caminho se desfez qualquer fundamentalismo. E aumentou a minha admiração pela mente e pelo mundo metafisico.