Aprendo um pouco de Quechuas e Peru em Barranco.

Hoje é domingo e tinha ficado marcado que viria aqui a Vilma para limpar. Naquele dia já tinha conhecido ela e Fernando seu filho de 10 anos. Acabaram de partir daqui. Mais de cinco horas de trabalho e conversas dos quais eu e o André nos sentíamos mal por ela fazer tanto. Eu tentava estimula-la a fazer menos, em vão.

 

Íamos tentando fazer umas coisas para ajudar nao ajudou muito. Saímos daqui para almoçar tarde no lugar orgânico e convencidos que não estariam mais aqui na volta. 

Deixamos dinheiro, falamos que podiam comer o que queriam mas quando voltamos ela tinha lavado, secado e passado as roupas. Organizado a casa. Feito de um tudo. Uma limpeza de uma sujeira que deve ser da idade da casa.

 

Quando chegaram antes do nosso almoço contei ao Fernando que tínhamos uma surpresa para ele. Demos o lego que eu tinha comprado para o André e ele ficou encantado. Depois sentaram os dois montando e o Fernando lê o manual atentamente. Andre brinca com ele. 

E no final ele tira o seu saco de tesouro. Lá havia um outro lego e brincam mais. Quando fomos almoçar fora de cara o porteiro confirma a minha intuição “O Fernando não tem pai.” Eu tinha ficado impressionada pela sua atenção e pela amizade instantânea que se desenvolveu com o André.

 

Como ela está aqui na volta para nossa surpresa converso muito com ela que me conta que aquele canto do filme da peça que contei é Quechua. E ela e sua família também são. Conta que foi abandonada gravida e que partiu para essa cidade sem contar para ninguém que estava gravida. Ela e é de Puno. Trabalhou na casa de uma senhora de 90 anos até o bebe nascer. Volta para Puno e fica lá ate o Fernando ter 4 anos. Tem uma família que os acolhe. E me conta que a exploração dos trabalhadores em Puno é maior por isso voltou para cá.

 

Eu conto que quase morri na Ásia em 2013 e que tinha tido um AVC mas que nao tinha medo de morte mas tinha de semi-vida. Ela me conta que não tinha e me conta que num único ano quando ela tinha 13 perdeu dois irmãos. Um que pediu a ela caramelos e ela deu 4 e ele insistiu e naquele dia disse queria mais e disse um tchau de alguém que não volta. Não voltou. Morreu afogado num rio aos 15. 
Seu outro irmão morreu numa mina. Uma pedra desabou. Contei a ela que minha avó também tinha perdido um irmão num rio. Pode tudo parecer tenebroso mas falamos disso normalmente vida-morte como dizem os budistas.

 

Insisto para ela fazer menos coisas porque está ficando tarde para ela ir embora e já está mais limpo do que necessário. Conto para ela que tinha percebido que Fernando se sentia carente de pai. Ela me diz que a escola diz que ele não tem que ir no dia dos pais. E ela diz para ele ir porque um dia ela vai ser pai. Ela pede para ele cuidar das plantas como se fossem filhos. E ele não se esquece de colocar a agua na quarta feira.

 

Fernando me agradece tudo que eu dou. Chocolate, Laranja, Chá. Não pede nada. Semana que vem perguntei se ele não quer ir comigo na feira das flores para comprar vasos porque está faltando aqui. De Fernando ela não se separa. Não teve novos namorados. Sua atenção é para seu filho e a dele é calada e doce para tudo que ele toca. E claro que na feira pode e quer ir no domingo que vem.


Esse feriado era o dia do Peru. Andamos todos os dias e o sol se apresentou. As casas são tao coloridas nesse bairro que eu escolhi pela internet.




 Uma cidade plana. No centro tem um lugar de escadas em direção ao mar. E as noites são populadas de musica e barres e cafés. Há bandeiras do Peru por todos os lados. É lei. Nesse tal dia se não colocar a sua bandeira é multado. Tem quem ache que o nacionalismo venha de uma grande luta pela independência. Já as leis parecem mais claras.

Tudo que vi nesse festival foi bonito. Todas essas cores me inundam de felicidade. No entanto, o que mais me tocou foi conhecer a Vilma tão melhor. O que mais me tocou foi ele dizer

 

“Sofrer é um luxo que nunca pude me permitir. Cai e levantei e continuei caminhando. Fiquei feliz de te conhecer”

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