Lima e o tanto que se aprende da cultura numa peça na feira orgânica

Estou em Lima. E de cara já tenho um monte de coisas para contar.  Talvez começa pelo fato que eu não sou o tipo dona de casa, minha mãe nunca cozinhou e eu já criança saia da escola para almoçar em restaurante e eu meu irmão detestávamos. Hoje eu amo comer fora e tomar café da manha fora de casa.


Gosto mais de café da manha do que das outras refeições , então achei fundamental descobrir o lugar certo do café da manhã daqui. Achei no sábado meu lugar favorito. E hoje o André que foi criado numa família mais estruturada prefere comer em casa. Sugeriu que fôssemos a feira.

 

Eu acordei as seis e dizia-se que havia Tai Chi aqui do lado. Acordei o André empolgadíssima. Disse para ele que não se surpreendesse com minha mudança de humor mas que estava tomando muita cortisona e dizia lá na bula dos mil efeitos colaterais.

 
André ,como sempre, não liga muito, mesmo porque ele não toma remédio é calmo e homem das ações. Levanto animada passo frio na rua, os Chineses não estão lá e é do lado da futura feira. O moço peruano diz que devem chegar mais tarde. E eu digo “Vamos embora está frio.”

 

Na minha versão mais honesta volto e durmo e acordo e vamos tomar café num lugar que só tem no domingo? O André  sugere a feira e eu inundada de um novo sono digo “ por que ?? Como diz meu pai isto é arcaico e deixa a cidade suja.”

 

Vamos ao café e pagamos uma fortuna para comer aquela comida boa mas logo o café é sem graça.


André quer ir no supermercado. Vamos e na volta eu digo para ele ir a feira se gosta tanto que eu fico em casa. E ele me pergunta “xuxuru, porque vc não vem?” Eu vou meio achando inútil  e segundo ele agora “contrariada porque bem no fundo sou uma elitistinha” diz rindo. E eu naturalmente me reconheço preconceituosa e errada.

É uma feira orgânica e tem de tudo lá. E eu é claro já fiquei amiga da senhora que vende pastas de azeitona e pimenta e de tanta conversa somos amigas de face e ela é da linha da meditação, do Ayurveda etc e tal.



No entanto, do que mais queria contar, era do teatro para as crianças feito no final da linda feira orgânica .


Eram fantoches. Uma mulher cozinhava e quando saía do palco ( para baixo) uma vaca fantasma aparecia e roubava a comida. Ela sempre perguntava as crianças quem era que tinha feito aquilo e as crianças contavam. Ela não acreditava  e então pedia ajuda o que  as crianças sugeria que ela deveria usar par se proteger do ladrão.

As crianças dizem

“Faca, revolver.”

E o fantoche da mulher diz “Que isso, não sou assassina sou uma campesina.”

Ela pega um pau para lutar com alguém que rouba. Quando eventualmente consegue ver o fantasma da vaca sai correndo e conta ao marido. Ele se propõe a cuidar. E manda ela ir embora porque ela é mulher e ele é homem. E ela como mulher naturalmente é medrosa.

Aparece o fantasma da vaca e o homem se desespera. O fantasma desaparece e ele chama a mulher e diz.

 

“Vamos para casa da sua mãe.”

Ela diz que de jeito nenhum. E vão brigando para baixo e volta só ele que começa a se assustar quando vê o fantasma da vaca. Ele cai no chão e ela o joga para baixo do palco. Volta a mulher e pergunta “Onde esta meu marido e o público das crianças conta  que ele caiu.”

Eu ia ficar cinco minutos mas é claro que de cara vi que podia ver muito da cultura e fiquei até o fim. Então para minha surpresa a mulher diz. “Eu vou vencer pela nossa cultura. Peço ajuda. Cantem comigo. E ela canta um canto que não é espanhol e a vaca vai ficando pequena e cai.

 

Então a mulher diz “minha mãe me ensinou quando o mal se queima ele desaparece.”

 

Ela transforma a vaca em fogo para fazer comida e vai buscar o marido e chora porque está morto. Revive. E quando ele acorda e ela mostra o fantasma morto pede ao publico para contar quem foi. E então ela diz:

 

“As mulheres podem ter medo, como tem os homens ou qualquer um. Isto é normal mas quando se metem com a nossa família, nós as mulheres ficamos bravas como o Puma.”

A peça termina com o homem pedindo perdão a mulher por não ter confiado na sua força. E dizendo que é a parte romântica.  Tem beijos. Por sorte fiz o vídeo do final e vocês podem ver.

 

Fiquei emocionada vendo a peça. Lembrei que muita braveza tinha vindo em mim pela cortisona, pelo clima brasileiro, questões de família e achei de alto valor o pensamento de uma peça de reconhecer que o medo é comum a todos.

 

O André passou a me chamar de Xuxuru porque eu o chamo de Cocoru. Assim como o homem pediu desculpa de não confiar na mulher em proteger a família, eu reconheci que ir na feira era bem melhor que o lugar do café de hoje. E no final não tem nada como reconhecer os seus erros e não ficar querendo ser perfeita.  E agora até o sol apareceu uns segundos aqui. Quanta alegria.

 

 

 

 

 

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