Hoje é meu último dia e noite em NK e eu estou tão cheia de histórias que nem sei por onde começar
Quando eu disse que aprendi muito do Laos é porque eu tinha esquecido o que os guias e livros de fora tinham dito. E estava com a Pao que consegue falar com os locais e em inglês.
A Pao é professora de inglês e conheceu o Julian há anos quando ela estudava inglês. Ela é a professora que não liga para disciplina e como ela disse “a não ser que a pessoa sinta que tem mais ou menos a mesma idade a pessoa se inunda de vergonha, desconfiança e não tenta nada.”
Professora que é professora é assim. Não é a senhora da verdade, mas aquela que te ensina ter confiança de tentar e nem ligar muito para erro. Sem erro não tem acerto.
Então do meu lado tenho uma amiga de anos, tenho uma professora e uma mulher budista. Tudo que ela já me mostrou e contou exige muitos posts.
O budismo desse lado é Theravada que veio da Índia. E eu já estive por esses lados 2009-11-12-13 e agora 2016. A prática comum é a meditação.
Eu tinha aprendido no passado que você só deve casar com um homem que já foi monge. Não militar mas monge.
Ontem a Pao me explicou que isso vem do fato de que essa era a única forma de ter educação de graça. E era a única forma que um homem aprendia a ser homem. Que é lidar com ele mesmo.
A Pao me explicou que se ordenar era no passado ficar de 3 meses até um ano. Hoje em dia meninos fazem por 7 dias, por causa do trabalho, que ela acha que é meio piada.
Ser um aprendiz não é debater e ler é aprender deixa o mundo de fora fora e sentar e meditar. Meditar é observar a sua dor, a sua respiração, é conhecer profundamente seu corpo. É reconhecer de onde vêm as dores, de que atos, quais são as energias, sinapses.
Eu já fiz muitos retiros de meditação. O mais difícil é o do Goenka. São 10 dias pelo menos de abandonar seu telefone, computador, livro, caneta, conversa. É comer duas vezes por dia e sentar umas 10 horas por dia de meditação. É aprender a não se mexer diante da dor. É sentir o ar.
Aqui normalmente têm a meditação sentado, andando e deitando. A Pao me explicou que enquanto não conseguimos ficar com a dor, ficamos no mundo sem estar nele. E de fato somos tão distraídos por tudo que mal nos conhecemos. Usamos o fora para saírmos de nós mesmos.
Todo templo tem mil pequenas histórias atrás dele. Aqui na entrada sempre tem uma serpente. A serpente vem debaixo da terra e se fantasia de homem para se ordenar como monge.
Assim que ela está para se ordenar percebem que não é um ser humano. E ela não pode virar monge. Pao me explicou que Buddha está tão impressionado por tamanha determinação que a permite ficar na frente dos templos. A serpente o guarda.
Quantas serpentes já vi? Quantas pagodas, stupas, templos que eu entrei sem saber porque estavam ali. Eu sempre as achava belas mas nao sabia porque estavam lá. No Laos o homem de verde guarda ainda lá para fora. Lá dentro está a serpente na frente do templo.
Pao me explica que por isso todo homem precisa se portar como a serpente com determinação , com humildade, e com lidar com sua identidade. É sempre necessário ir descalço para qualquer templo ou dentro da casa.
E graças ao Min Min diante do sino sei que devo toca-lo. Há diferença entre Mahayana e Hinayana. Os Theravada são Hinayana e eu os respeito como respeito tantas religioes.
Fui de ser ateia fundamental para abandonar filosofias e prestar atenção nas pessoas. Em qualquer canto tem seres humanos. Todos nós temos sinapses e vícios químicos dos nossos corpos.
A difícil batalha é diminuir as sinapses ruins. Uma vez viciados nessas dopamina vamos criando situações nós mesmos para o pior.
Precisamos não aceitar esses presentes. Não entrar nessas disputas. Não querer vencer.
Precisamos a ajudar o outro acordar o que há melhor dele. Os tibetanos me disseram há muito tempo atrás
“não aceite esses presentes se não você é parte do discurso.”
Estou para partir e já sinto falta dessa terra onde tudo flui.
Como será que todos nós ganhamos? O não aceitar o presente muitas vezes vira separações.
Dessa maneira eu também acho que todos perdem. É sempre um outro vicio aceitar qualquer coisa ou partir de algo que parece não te dar valor.
Por trás eu acredito há sempre uma razão. E devemos descobrir o porquê de algo antes de decidir partir ou ficar.
Agora eu até penso na serpente e peço que ela me proteja. Proteja o que mais dou valor e que nao deixe presentes errados entrarem.