Goiabas, Arte e a ponte da Amizade.

Aqui na Tailândia eles chamam os ocidentais de Farang. Farang é nada mais ou nada menos que goiaba. Eles te explicam que é porque são brancos. E eu rio porque penso que no Brasil chamar alguém de goiaba é hilário e mais ainda pensar que são os ocidentais 😉

No entanto, ser branco é sinal de ser rico e não ser camponês  que fica se queimando o dia todo nos campos de arroz. E quando vim ser voluntária em 2009 eu escolhi ficar em região de fora da cidade. Eu fazia mestrado na Inglaterra e me considerava totalmente apta para o campo por ser da América do Sul. 

 

Claro, que sou dá América do sul da cidade de São Paulo, o que significa não saber nada de nada do campo. Eles me colocaram nessa província de Isaan. Isaan é a região mais pobre econômica e a cidade onde fiquei tinha umas 30 casas. Vim parar em NK por longas historias mas principalmente porque era assim que cruzava para o Laos.

Estive no Laos duas vezes e cruzei o país de ônibus de barco e aviao  e a verdade é que eu nunca conheci tão bem o Laos como ontem. Contei para Pao que tava pensando em ir passar um dias em Vientiane para procurar echarpes e Pao disse que viria comigo. Era sábado e ela estava livre do seu trabalho como professora.

Tanto ela como eu acordamos muito cedo e resolvemos ir as 8. Fomos no seu carro , tiramos fotos e ela é a Thai que fala inglês e eu conheço há anos.


Tiramos fotos nos despedindo de Nong Khai. Deixamos o carro e andamos para imigração. Quando você chega na Tailândia a coisa mais sabida que há é que você preenche um formulário e não pode perder o papel porque tem que devolver na saída. 

Quem é da América latina tem que ter certificado de vacinação de febre Amarela. E eu como não posso tomar vacina tenho uma carta da Dra Karen e todas as vezes que cheguei dessa vez na Tailândia eu tenho que explicar e mostrar o certificado. Ou seja, dessa vez na hora de ir, garanti que tinha todos os papéis e fomos.

Saímos da Tailândia e pegamos o minionibus para cruzar a ponte da amizade e quando chegamos lá eu tenho que pagar o visto. Portanto é só nesse momento que me dou conta que estou sem carteira.

Fico decepcionada e Pao diz que ela paga e eu digo que é melhor voltarmos para eu descobrir se esqueci ou perdi mesmo porque eu sabia do visto e tinha resolvido ir pelas echarpes. Peço mil desculpas e Pao diz que sem pequenas contradições não é divertido. 

A grande emoção é que técnicamente eu na verdade já sai da Tailândia e estou por grande sorte na ponte da amizade ao lado de uma amiga Thai que consegue explicar o caso para a fiscal que concorda de eu entrar sem passaporte. Tanto ela como eu voltamos a Mut Mee deixando nossos passaportes e formulários do Laos com ela. Ela precisa ter alguma certeza que voltamos.

Claro que minha carteira era o item esquecido no quarto e dessa vez pego até um guarda-chuva. Pao me pergunta se eu acho que chove e eu digo.

” Esta nublado se eu não levo chove e se eu levo aí não chove ;)”

Rimos muito e o dia vai se abrindo e abrindo. Tem milhões de coisas para contar desse dia. E resolvi que conto aos poucos.

Ao lado da Pao que pode contar a história é falar aprendo tanto. Quando vejo um homem ali na beira da fronteira, do lado da Tailândia pergunto o que é.
O instrumento de chama Can. É o senhor parece velho. Tem 74 anos. Pergunto se posso tirar foto e ele toca para nós. E nos sentamos ao seu lado. Ele conta a história do Can e dessa música.

Um homem do mundo espiritual desce a terra e nasce feio e escuro, nada tem a ver com os negros africanos ela me explica, e sim com ser tão diferente que é visto como feio.

E então ele pega o Can e toca e todos vão ficando se seduzindo pela música. O homem se apaixona pela princesa e quando ela o escuta tocar se apaixona. Casam -se e ele vira um belo rei.

Pao me diz este senhor que toca e que conta a história  é cego e  que ela precisa explicar que deixamos notas não moedas. Pode jogar fora por nao perceber  os tics de moeda. O senhor fica muito feliz e nos toca mais. Onde será que esse senhor vive? Ele que nem vê.

Parti de lá e não parei de pensar o que será que faz tantos achar que a diferença é feiura? E através da arte, da música todos se encantam com o homem diferente e vem beleza ? Na história ele vira um belo rei. O que será a beleza? Reconhecer o valor da diferença? Ver beleza em quem somos? Vê-las em nós mesmos ? Na beleza daquela música daquele senhor mesmo velho e sozinho parecia feliz. A arte sempre faz isso. Nos faz melhor.
E claro o por do sol foi lindo.

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