Do Que Será Que Valem As Categorias?


Essa enorme violência que está instalada no mundo, e agora no Brasil. De um lado acorda muitos para o fato que aqui nunca foi de fato terra onde tudo transcorria em paz. Era mais a terra onde as relações  sexuais por opção ou falta dela fez com que a população Brasileira tenha ficado miscigenada.  Enquanto nos EUA eram famílias, casais que iam para lá, para o Brasil eram homens sozinhos. Então por amor e estupro houve mistura com os indígenas e os africanos e todas outras culturas.

Tanto nos EUA como aqui com os colonizadores ficaram os maiores direitos. As terras. Muitas populações   Indígenas  foram mortas por doença e por intenção. E no Brasil de tanta mistura crescemos com menos pre-conceito aberto e escancarado que nos EUA. E isso nao quer dizer que nao houvesse.

E por todos os lados do mundo mulheres tinham menos direito. Tem um livro legal do Edward Said que fala como a colonizacao ajudou as mulheres inglesas ganharem poder. Os homens estavam fora e elas tinham que tomar a rédia das coisas. Isso também aconteceu durante as guerras. Na Alemanha depois da guerra também tem um outro livro de como se transformou a sociedade porque de um dia para o outro foram de admiradoras do Hittler, dos seus pais, maridos, para homens presos, e mortos para quem não  tinham direito nem de fazer funeral. Então no leste da alemanha as mulheres ganharam ainda mais poder que no ocidente porque nem viam porque casar com um homem, e faltavam os homens.

Escrevi no Facebook esses dias porque ao mesmo lado que me choca, intriga, me entristece ver o que fizeram com as mulheres, foi ler os comentários de mulheres e homens dos dois lados. As que viraram feministas da vertente homens não sao necessários, e da vertente dos que querem todos mortos, os homens estupradores é claro.

Não tem jeito, eu não consigo acreditar que nada se constrói de tortura, de morte. Sempre vi pelo mundo a fora que violência gerava mais violência. Sempre falei até com os tais violentos e nunca aviolência  deles tinha vindo do nada. Vinha de alguma opressão.

Lembro que quando cheguei em NY em 2001 dias antes de 11 de setembro fiquei amiga de cara de Iranianos, Iraquianos, Marroquinos, Israelenses, Saudis, Chineses, Europeus e Americanos.Então  quando aquelas torres caíram eu  me perguntei “Por que será?”e Nunca “Tem que matar esses caras.”. De cara fui parar nas aulas de Oriente Medio, História , Antropologia, e de cara eu tinha que preencher qual era minha categoria.

Branca, Negra, Ispanica, indígena, asiática, do Oriente Medio. Nao me via em nenhuma. Nos EUA os brancos são os descendentes de Ingleses, e Irlandeses.  Perguntei a moça que me perguntou de onde eu era. Quando disse Brasil me mandou colocar “Hispanic”. Expliquei que eu falava portugues. E já uma nao cumpridora de regras absurdas coloquei  escrito “HOMO SAPIENS SAPIENS”

Então eu conheci o Mustapha que ensinava Descolonizando a Mente. Essa aula deu informação e  possibilidade de conversa a todos. Cheguei no primeiro dia e estavam sentados brancos para um lado e negros para o outro. Eu fiquei surpresa e sentei na frente do lado da Leila. Na frente dele. Mustapha criou uma página  onde podíamos escrever. No começo ninguém o fazia. Depois todo mundo começava a perceber a discriminação do outro e escrevia-se .

Um dia como contei no Face percebi lá que eu nasci numa casa que nunca teve diferença de mulher e homem. Ou seja de mim e do meu irmão .  O Mustapha pediu que escrevêssemos uma carta imaginando como teria sido o nosso dia se acordássemos de outro género . Eu passei um dia pensando e pensei que nada mudaria , conseguia até fazer xixi de pé. Só no sexo pensei que físicamente  o homem penetraria o outro, mas não significava que não penetrasse o outro como mulher. Enfim, quando li a minha carta em NY todos se chocaram. E eu me surpreendi com a carta deles. Todas as mulheres viam a vida de homem mais fácil e nesse dia imaginado fariam mil coisas distintas, que na minha mente podiam fazer como mulher, e os homens achavam que suas vidas seriam mais dificil como mulher. Quase todos preferiam nascer como homem.

Aquilo me fez perceber a importância que tinha sido não ter essa diferença na minha casa, ou seja na minha mente. Por isso eu fui sozinha para a Palestina e Israel, norte da África , América Latina, Índia, Europa etc… E de fato em alguns lugares era mais intenso e eu sempre falava com o Palestino, o cara do capão , da kashemira, do Marrocos e ali naqueles segundos de troca eles viraram o seu melhor e eu também.

Já confrontei cara armado etc e tal. Nunca fui atacada, ou melhor um principio de ataque era desconstruído.  No princípio  pela minha calma e por perguntar ao outro sobre a sua vida e depois por pensar que os Tibetanos dizem que uma vez que vc tem consciência você   tem responsabidlaide por aquele que nao tem.

Acredito que é fundamental que todos aprendam a tratar as pessoas como seres humanos . Às vezes novas classes podem gerar mais violência . Na verdade qualquer coisa pode porque essa violência já está dentro. À transformação que precisamos fazer é de sim denunciar, repudiar mas tenho medo que mais violência venha disso. Talvez o melhor seja ajudarmos o outro a ter consciência. Temos que fazer um trabalho de artista de acordar o melhor de nós e do outro. Porque atacando, o outro sempre se defende, e de cara vira violento. É um princípio de muitos de nós acordarmos. E de todos nós reconhercermos as nossas falhas. Sempre as temos.

Reconheço que tenho privilégios. O maior de todos foi esse e sou grata a minha mae, e meu pai por nunca terem dito “Voce é menina não  pode fazer isso.”. Então, enquanto eu estou aqui quase voltando para a Ásia  eu deixo este desejo a todos vocês. Se tem filhos não  os faça pensar que só uma categoria pode fazer coisa.

Eu sou primeiro ser humanos, e nas mil categorias (mulher, tenho vasculite cerebral, budista, com  respeito a tantas outras religioes, antropologa, compositora, escritora, brasileira,  de sao paulo, viajante, casada, casamento aberto, divorciada, amiga do ex marido, novos namorados, em coma na Asia, abandonada, apaixonada, casada de novo, com amigos gyas, lesbicas, hetero, um AVC faz 2 semanas. E tanto faz tudo isso. Hoje eu pego, “Insh’ allah ” um voo para Bangkok para ir a Birmania. Uma ditadura, um país Budista que sempre quis ver. E nenhuma categoria me deixou mais capaz.
Sou grata a minha mae e meu pai que me deram uma ótima educaçao e eu nao virei nada do que eles queriam que eu fosse. Ainda assim eu sou grata porque eu sou livre. Eu tenho coragem de dar um passo para frente sem ter medo. Tenho coragem de recomeçar mesmo caindo. E tendo o amparo que tem mais valor que tudo: minha avó, meu marido, e meus amigos que estão espalhados no mundo. Controlam as suas preocupações para me respeitar.

A vida é curta. O hoje é um presente. Se eu como mulher, com uma doença auto-imune, tendo tido um AVC ( moderado)  faz  duas semanas, estou tomando cortisona tenho nao só coragem mas gratidão, e felicidade de poder fazer o que mais quis fazer e que deu errado tres vezes. Uma vez minha mãe  foi la e quis ir ao Laos, na segunda eu quebrei o pé dias antes, lá na beira do Mekong, na terceira eu tive um ataque epilético na embaixada da Birmania e fui induzida ao Coma em Bangkok. Quase morri. Perdi neurônios. Ninguem sabia se eu ficava bem de novo.

Fiquei. Fiquei ainda mais grata. Com mais coragem e levantei nessas duas semanas com ajuda do mundo todo. E hoje eu vou. Nao é categoria nenhuma que permite isso. É o respeito pelo ser humano e por mim mesma.

 

 

 

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