Amor não é controle

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Nininha tem 28 anos. É uma menina muito bonita que trabalha como faxineira na casa da minha avó há muitos anos. Ela me permitiu contar essa historia que vem de um longo caminho.

 

Com 14  anos era apaixonada por um menino lá na Paraíba. Seu pai nao deixou ela ter namorado naquela época. Assim quando ela fez 18 anos ela fugiu com um outro rapaz. Casaram  e fugiram para São Paulo e tiveram uma filha que hoje tem quase 10 anos. Esse tal, já é ex-marido  pois batia nas duas:  na Nininha e na filha. Já faz anos que ela me contou e conseguimos até defende-las com a lei  Maria da Penha.

 

Nininha é linda mas passou a não se arrumar. É religiosa, é das filosofias da bondade etc. E nao é  que na semana passada ela me contou que recebeu uma ligação do pai lá da Paraíba.

 

O tal pai nem se quer recebia a neta na sua casa quando foram visita-lo. Aquela neta o avô não reconhecia como parte da família. Disse que só deixava a Nininha entrar na casa. Naturalmente ela nao ia abandonar a filha  na rua  sozinha e  acabaram indo as duas para a casa da uma irmã. Um certo dia, esse pai precisava vir a São Paulo e quis ficar na casa da Nininha, é claro, não ia pagar um hotel. Nininha mora no Capão Redondo e trabalha todos os dias em algumas  casas espalhadas por São Paulo. Sempre chega umas 6 da manhã e parte na hora do almoço para poder passar um bom tempo com a filha. Naturalmente, o pai queria que ela fizesse mil coisas para ele, e achou que ela era má- filha. Além de não agradecer absolutamente nada,  depois de resolver as coisas que precisava resolver em Sao Paulo desapareceu sem nem se quer dizer adeus. No meu longo conceito era um pessimo pai, machista, controlador etc… Então, esse tal telefonema surpreendeu até a Nininha já que ele nunca ligava.

 

Pois é…. Na verdade era o menino que ela queria namorar aos 14 anos e que agora era amigo do pai. Com a permissão dele, ligava com o telefone dele para ela.  Ela se surpreendeu e o menino disse que ela era o amor da vida dele. Que deveria abandonar o namorado atual. Disse que deveria voltar e ele compraria um dos dois terrenos que ela está pagando mensalmente há um tempo.

 

Pois é,  Nininha depois de um bom tempo sozinha arrumou o Gil aqui em São Paulo. Gil tem 52 anos e faz 3 anos que estão juntos. Do pouco que falei com ele no telefone, ele me pareceu muito simpático. Nessa tal ligação desse menino aparentemente o próprio pai mandou ela abandonar esse homem que era velho demais e que voltasse para a Paraíba. Que deveria sair com o menino que ela gostava quando tinha 14 anos e que vendesse um dos seus terrenos para. A historia do terreno é complicadissíma. 

 

Nininha, timida do jeito que é, ficou sem palavras. Sentiu frio na barriga. Disse que já tinha namorado. Disse que respeitava o Gil etc e tal. No entanto, quando ela me contou isso eu disse:

 

“Nininha, já que você já está indo para Paraiba para ver se o terreno existe porque não sai com o menino e descobre a realidade dessa lenda?”

 

Nininha ficou surpresa. E eu disse isso pois tinha impressão que iria e o menino do passado provavelmente seria simpático no primeiro dia e em uma semana já estaria dando umas ordens como faz seu proprio pai. Nesta tal viagem também ficaria também clara a historia desse terreno que ela compra com documentos que pela minha avaliaçao e de uma amiga advogada, nao existe registrado.

 

Nao é que hoje Nininha volta aqui e me conta que fez uma pesquisa sobre o  menino, que gostava  no passado, e descobriu que ele gosta de beber, gosta de festa e ela gosta de passeios, coisas mais tranquilas e não bebe. No entanto, nao foi isso que mais me surpreendeu. O que me surpreendeu foi que ela me contou que já contou do telefonema para o Gil, seu namorado de 52.

Ela me contou que estava brava com o Gil. Perguntei por que? E  e ela explicou:

 

“Você acredita que ele me disse que eu deveria ir e sair com o moço e que deveria descobrir se aquilo me faria mais feliz.Disse que  o que me deixa feliz o deixa feliz. Não posso te prender.”

 

Eu de cara disse:

 

“Nininha como é bom o Gil! Sempre me surpreende. O homem que ama liberta não prende. Porque vc ficou brava?

 

“Julieta, voce acredita que ele me disse para eu sair de casa mais arrumada, nao desarrumada como sempre faço e no único dia que fiz isso  e saí sozinha tinha homem me olhando e eu tive que sair do onibus!”

 

E o que o Gil disse disso?

 

“Nininha porque vc nao aceita ser bonita? Porque vc nao deixa as pessoas te admirarem? Você tem que se sentir bem de ser quem é. Uma mulher bonita. Voce tem todo o direito de sentir felicidade.”

 

Ela falava mais e mais e eu sentia mais e mais admiração do Gil.

 

Nininha via nas palavras dele descaso, falta de ciúmes, e eu via respeito e amor.

 

Então fiquei lá ouvindo e disse

 

“Nininha seu pai te maltratou. Seu ex-marido te maltratou. Você aprendeu que amor é controle. Amor nao é controle. O Gil não é indiferente a você ele só quer a sua felicidade. Ele é um homem admirável. Deveria dizer a ele que era grata de descobrir essa forma de amor. Devia contar que está desacostumada do respeito verdadeiro.”

 

Pedi se podia contar a história. Ela disse que sim. E ficou feliz porque tanto eu como a Netinha (que também trabalha na casa da minha avó) achamos que ele era um bom homem. Netinha que é do Maranhão e tem 29 anos disse:

 

“Se arrume para que muitos te admirem, até saia com o outro, para que fique registrado que está com o Gil não por falta de opção mas por escolha mesmo tendo diante de você tantas opções.”

 

Tanto se diz e se pergunta do amor. Mas eu acredito que amor sempre tem que ser livre, tem que ser adubado de gentileza, de carinho. Quem cresce sendo mal tratado vê liberdade como abandono. Acha que falta de ciúmes é descaso. Nunca para pra pensar que talvez, alguns de nós tenhamos ciúmes silenciosos em prol do outro.

Violência, tapas, ciúmes, rejeiçoes de desejos  não são fortes expressões de amor. São atos egoístas.  O amor, de fato, é uma prática diária  mas não  acredito que deva ser  controle, nem auto, nem do outro.  O amor, o Tao deve ser livre.

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