Vixe consegui escrever ontem e contei toda a história da minha grave queda, mas hoje vou falar de outras coisas da minha avó.
Primeiro quero contar do presente e passado. Um dia conheci HH Dalai Lama e lá ouvi ele dizer que não estava falando para virarmos budista. Devíamos dar valor onde estamos pois é mais fácil e pegar o que achar que faz sentido do Budismo. Eu peguei tentar a paciência, compaixão e impermanência.
Com o tempo fui conhecendo muitos Tibetanos falando de ações e reações. Acima de tudo aprendi sobre em vez de descolocar problemas, aprender ser presente e se auto avaliar.
Eu passei por tudo. Oriente Médio, África, Ásia Europa e América. O mais duro é estar presente e ser presente sem deslocar o problema para algo. Também aprendi que cada pessoa tem um caminho, cada um tem uma língua, personalidade e, portanto, mais fácil aceitar as pessoas como são em vez de dar culpa em ninguém.
Enfim vim contar tudo isso para falar da minha avó Lucia que sempre foi católica e sempre foi paciente. E apesar de eu ter sido ateia, budista etc. etc. nunca me forçou nada. Sempre deixou eu ser como eu sou.
Minha avó tem 93, quase 94, e um dia ficou com artrose, depois Herpes Zoster, Perdeu a visão de um olho e de repente no natal, do ano passado minha avó quebrou a perna. Operou e ficou num quarto. Tudo foi deslocado para seu quarto. Empregadas ficavam no quarto e minha avó sentava na cadeira para ver televisão e ler.
Minha avó sempre fez ginastica, sempre leu, sempre gostava de ler em várias línguas e se adaptou a ficar no quarto.
Minha avó é calma e eu, sou muito brava.
. Resolvi em poucos meses dizer a minha avó para colocar um chamador e ela chamar quando quisesse algo, pois pensei que minha avó devia se sentir bem.
A história é longa. Minha avó fazia tudo nesse quarto e eu disse
“Vó, você não é tetraplégica, não é prisioneira, volta para o resto da casa.”
Minha avó disse que ela tinha 93 anos e eu não entendo. Eu disse
“Vó, você consegue ler e eu travei. Eu no meu coma perdi o andar, o olhar o falar, o memorizar, lembrar. Você sabe ler, sabe falar e consegue andar. Pode dizer a qualquer pessoa, menos para mim. Se você acha mesmo que é ótimo ficar como uma prisioneira num quarto eu vou embora e volto ao Peru, mesmo não me sentindo muito bem.”
Minha avó começou a ver que estava melhor e quis vir comer na mesa. Portanto começou a andar. Quando vovó pedia para alguém escolher a roupa eu fiz minha avó olhar as roupas dela e ela escolher. Minha avó então quis até ver seus sapatos. Começou a querer ver suas amigas. Foi convidada para uma festa de 90 anos de uma amiga da ginastica. Fomos e ela adorou. Começamos a ir a restaurantes.
Voltamos tudo para sala quando o Andre voltou, minha avó só deixou quando o André voltasse. Eu pedi férias dele para nós aproveitarmos a vida. Nunca sabemos o quanto vamos viver. E eu que já quase morri duas vezes sinto profundamente que devemos dar valor ao que temos do nosso lado e nem damos valor até perder.
Eu não tenho medo de morrer. Eu só não quero ser dependente e deslocar problemas. Por isso já disse aos meus pais e Andre que se eu quase morrer, me deixe morrer não lute tanto porque me querem por perto. Não digo porque eu não amo a vida. Eu amo a vida que estamos presentes, não prisioneiros e com medo de morrer.
Também sei que cada um tem um caminho. Só digo tudo isso pois eu sei que minha avó agora está feliz. Minha avó foi ouvir música clássica comigo e Andre. Minha avó adora sair. Sei que tem muitos que pensam que deve deixar fechada para viver mais, mas nunca vou achar isso já tenho passado por isso.
Minha avó é a pessoa que mais amo no mundo e por isso queremos festa, musica e prazer, e nem minha avó nem eu temos medo de morrer. Eu sei porque eu fico com minha avó. Por isso digo a todos se tem alguém ao lado não ponha para baixo. Não tire os valores, os sonhos por causa do seu medo. Lide com o seu.
Quando os outros deslocam os seus medos o valor da vida também parte.
Tudo que eu escrevi aqui minha avó leu.