Venezuela- As políticas na fronteira

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Já que estou escrevendo sobre como foi subir o Monte Roraima no meu blog em inglês vou escrever aqui sobre o que vamos descobrindo aos pouquinhos por santa elena.

Santa Elena é a primeira cidade que encontramos na Venezuela depois de cruzar pela BR 174 que vem de Manaus passando por Boa Vista.

Acho que todas as fronteiras de lugares que não são da europa ocidental são meio parecidas. Tem sempre tráfico , contrabando e gente fazendo câmbio de dinheiro.

A Venezuela, como os brasileiros devem estar cansados de saber, está passando um momento difícil, com uma economia colapsando e uma escassez generalizada . As razões para isso são debatidas por todos. Em geral as pessoas que são de espectros políticos distintos tem visões muito diferentes.

Muitas pessoas da esquerda diziam que todos os presidentes antes de Chavez tinham sido piores que ele. O país tinha uma economia mais forte e também tinha mais desigualdade social.

O que eu aprendi até agora? Muita coisa. Só estive em uma província, uma cidade, mas também ouvi viajantes que viajaram pelo resto do país de carro e é claro ouvi dos locais dessa cidade e de outras. Dá para falar que o que eu escrevo aqui é portanto a realidade da Venezuela? Claro que não. No entanto, dá para falar do pouco que vi e ouvi até hoje.

Aprendi de um economista Venezuelano que antes de 58 houve sempre um regime militar que era um legado de guerra de independência. Nos explicou que em 1830 morreu bolívar e se deu então a separação da Venezuela e da Colombia. Em 1958 começou a democracia civil. E foi em 1998 que Chavez ganhou as eleições para a presidencia.

A crise nos explicou começou antes, nos anos 80. E agora sofrem por causa de mais uma queda do petróleo. Nos contou que 70% dos alimentos na Venezuela são importados.

Há frase mais dita aqui é ” No hay.”. Claro que passei a perguntar a todos que encontro desde quando não plantam aqui. E então as informações ficam confusas. Alguns dizem que plantavam e foi parado, outros que terras foram tomadas pelo governo e que ja não plantam mais, e outros explicam que o petróleo resolvia todos os problemas.

Maduro parece não ser muito aceito. No entanto, os que o apoiam explicam que Santa Elena não é a Venezuela. Aqui as pessoas vivem da troca com Brasil. Tudo é mais caro, e o contrabando de gasolina para o Brasil é enorme.

Os carros são velhos. A gasolina no lugar mais caro da Venezuela é de graça para o povo de Boa Vista. Se vê muita gente com carros do Brasil aqui.

Hoje conheci uma taxista maranhense que morava aqui e não pensava em voltar ao Maranhão. “Aqui tudo é mais fácil.”

Também percebemos que todos pegam taxis. Qualquer corrida custa o preço de 100 bolivares ( nem dois reais).

Talvez um dos nossos encontros mais impressionantes tenha sido com dois homens, um que amava Chavez e outro que o odiava.

O que o odiava contou que tinha votado para Chavez. E ele que também odiava Maduro explicou que era do exercito quando Chavez foi eleito pela primeira vez. Disse que todos foram forçados a votar nele. Com seu comandante apontando a arma, ele e seus camaradas foram obrigados a votar em Chavez.

Esse homem confirmou que de fato Chavez tinha dado computadores a todas as criancas na escola como os chavistas nos tinham dito, mas agora no tempo de Maduro explicou que era muito distinto.

Resolvi perguntar ao maior Chavista que conheci sobre isso. Ele ficou perplexo e disse que trabalhou nas eleições e nos explicou o sistema.

O Chavista explicou que o voto era eletrônico e que saia imediatamente um comprovante da votação que ia também para uma urna. O mesmo voto era guardado eletronicamente e num papel dentro da urna. No caso de duvida podia-se abrir e contar.

Resolvemos verificar no pai dos burros, hoje em dia o google e de acordo com a revista Forbes a Venezuela emprega um dos sistemas de votação mais confiáveis e verificáveis do mundo. Tudo que o Chavista explicou estava ali, quem diria, na Forbes. Aprendenos ali também que no final da eleição pegam 52,98 % das urnas para serem abertas aleatoriamente para se confrontar com os dados eletrônicos.

Claro, que constatamos que isso não significava que os soldados não foram obrigados a votar no Chavez mas pelo menos parecia dificultar muito fraude no processo eleitoral.

Isso as vezes me parece o Oriente Médio sao tantas opiniões distintas ao mesmo tempo. Mas fronteira é fronteira nunca dá para saber o que se passa no resto do país…

Estava aqui decidindo que era ora de parar de escrever quando começo uma conversa interessantíssima com mais dois Venezuelanos. Um sociólogo que não gosta de Chavez e outro agrônomo que gosta.
O agrónomo depois de nos contar muitas coisas, nos convidou para nos levar para ver uma pedra na casa de um amigo. A casa é muito bonita e cheia de pedras semi-preciosas.

O dono se diz Cacique Taurepan e defende a prática de botar fogo em tudo. Mora em casa bela, é piadista e não dá para saber o que é mentira e o que é verdade do que diz. André não acredita que ele é índio nem aqui nem na China. Acha que comprou a identidade indígena para ter “muitos benefícios”. Já eu, acho que é índio e sem dúvida corrupto.

O agrônomo nos explica que só nessa provincia tem – coltan, diamante, ferro, silício , bauxita, tório, quartzo, dolomita, timbelita, urânio e muitas outras coisas que não consegui escrever a tempo.

Ele que trabalhou no ministério de proteção ambiental, nos mostra a árvore do país . Aqui se chama Agaraney, que é amarela, quando nos dá o nome científico verificamos para confirmar o que já achava André. Ipê amarelo. Diz que durante o governo de Chavez ele mesmo participou do projeto de reflorestamento de duas províncias. Até o Chavez, disse ele, trabalhou nesses projetos para minimizar a ineficácia. Hoje não há mais dinheiro para esses projetos.

Nos explica que é por causa da presença de tantos minérios que os indígenas queimam. Têm medo da combustão espontânea.

Pergunto a ele: vc gosta do Maduro?

“Soy Chavista pero Maduro se lo cago todo.”

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