“Nossa Crê que fome!”
“Também Julieta você quase não come. Quer que eu faça alguma coisa para você.?”
“Não Crê, deixa que eu me viro.”
A crê é minha babá de infância, ela cuidou de mim de quando nasci até eu ter uns 6 anos. Antes disso ela trabalhava para a familia do meu pai. Ou seja ela sabe muito sobre eles.
Quando fiquei doente no ano passado minha avó Jandyra falou para meu pai que a crê deveria vir cuidar de mim. Ela veio. E quando fiquei melhor minha avó Lucia, com quem moro, pediu para ela ficar aqui. E ela ficou.
Com seus 74 anos de muita vida e muita paciência ela fica lá me olhando na cozinha. Ela sabe que eu não sei cozinhar.
Abro a geladeira, pego arroz, feijão, farinha e misturo tudo num prato fundo.
“Julieta tá parecendo prato de peão! Vc tá com fome de 5 mendigos?!”
Eu rio e digo que sim. E começo a comer.
“Julieta, você não vai nem esquentar?”
“Não crê. Tá bom, a função é me alimentar, tá gostoso.”
“Então esse prato não é de peão é de bóia fria. :).”
Diz isso e se mata de rir. E eu me mato de rir com ela.
Ontem fiquei emocionada. Fui tomar suco no café da livraria da vila. Tomei o suco que tomo sempre.
No final a garçonete me disse.
“Que bom te ver tão bem. Eu lembro de quando você vinha aqui com a sua babá.”
Olhei para ela profundamente e me lembrei que tinha sido ela que tinha me dado o suco que tomo até hoje quando eu estava doente. Abacaxi, hortelã e mel.
“Como você se chama. Eu me lembro. Meu deus, eu me lembro de você. Nem acredito que você lembre de mim e da crê.”
Fico emocionada.
“Jennifer. Claro que eu me lembro. Estou muito feliz de te ver tão bem.”
Tenho vontade de abraça-la. Tenho lágrimas nos olhos. Quase tudo ultimamente vem me mostrando que não somos invisíveis aos outros.
Como a minha comida fria. Conto tudo isso a crê. E penso que em pequenos detalhes a vida é tão bela. Tão hilária.