Hoje eu acordei e liguei meu computador, e por acaso abri numa página de alguém que nem conheço mas acabei lendo e falava sobre a violência sobre a mulher.
Então resolvi escrever a esse desconhecido. Depois pensei que devia colocar aqui.
Li a mensagem e fiquei intrigada por várias razões, de certa forma porque lá ele perguntava sobre abusos. E por isso, mesmo sem conhece-lo, eu resolvi escrever, não para falar mal da crítica, nem para estimula-la. Talvez porque lendo me veio muitas imagens.
Não as típicas, eu imagino. De cara, sem dúvida, a noção de que a violência em direção a mulher é fomentada principalmente pelas mulheres. Afinal, reduto de homem machista, é em geral onde o pai quase não faz parte da criação de um filho.
Depois me veio a cabeça uma coisa mais preocupante, é que no final a condenação da violência sobre a mulher, também é em si uma violência ao homem. Porque, ainda que mais afetadas corporalmente, financeiramente, psicologicamente etc. No fundo, essa violência não descrimina por cor, ou sexo, ela é uma violência em geral humana.
Como vocês sabem eu viajei sozinha a Asia, o Oriente Medio, a Europa, A america Latina, e o norte da Africa. Muitas vezes, fiquei na casa de pessoas que conheci em ônibus na Palestina, na Kashemira, no norte da Africa, leste Europeu etc. Nunca, eu fui mal tratada. Meus amigos sempre se chocavam com essa fé inerente em mim, no ser humano.
De fato, a India é um lugar machista, mas eu viajei sozinha por lá e quando me sentia minimamente atacada eu começava uma conversa com a pessoa sobre sua família. Em outras palavras, eu humanizava aquele encontro, entre dois seres humanos tão cheios de histórias e preconceitos.
Por isso, enquanto eu lia tudo naquele post eu pensava que a violência sobre a mulher, também é uma violência sobre o homem. O escritor pos-colonialista Aimé Cesaire no seu livro “discurso sobre colonialismo” em poucas páginas define que a maior violência de um colonialista é “des-humanizar” o próprio colonizador… Só assim, ele argumenta alguém pode fazer tão mal a outro ser humano. Primeiro ele precisa se violentar, se “des-humanizar.”
A violência contra a mulher, no fundo, nada mais é do que isso…. Uma completa incapacidade de ser presente, de encontrar o outro. No fundo é muito mais fácil matar o corpo, a propriedade do outro, do que a “alma”. Talvez seja por isso, que vítimas de violência cotidianas não consigam sair dela…. Aquilo é parte daquele sistema, você não consegue ver o seu dominador, como não consegue tão pouco se perceber parte daquilo. Na rua, é um estranho, mais fácil de ver quem é que você abomina.
Nesse post ele perguntava experiências de violência. E como eu resolvi responde-lo honestamente eu disse: ” se você quer saber de fato a maior forma de violência que eu já senti. Eu te respondo sem hesitar que é a que sofri sem perceber que aquilo era abuso. É aquela que sofre de uma pessoa que confia. E geralmente, é conseqüência disso que mata a sua “alma”.
Por isso, que talvez eu ache bem mais fácil a existência de um Palestino do que a de um Israelense. Eu tenho amigos dos dois lados do muro. No entanto, a violência que os Palestinos sofrem é tão evidente que eles não hesitam em saber quem é o seu abusador, já os Israelenses também sofrem, mas precisam fazer mil manipulações no cérebro para legitimar aquele abuso dos quais eles são obrigados a fazer.
Por isso, que eu não desconsidero o sofrimento das mulheres, mas simplesmente eu não o afasto do sofrimento dos homens. Por que nisso, eu concordo com o Cesaire…. Apenas quem é desconectado demais ( e no fundo todos nós somos um pouco) que pode
fazer tanto mal à um outro.
No fundo, devíamos todos aprender estar melhor dentro do nosso corpo. Estar mais presente. E mais a vontade, com a nossa limitação e a limitação dos outros…. mas isso, é de fato, bem mais difícil.
Linda reflexão, jules 😉 Beijos