Ando meio melancólica. Melancolia daquelas que faz um procurar todas as razoes lógicas, orgânicas e eventualmente, até as mais improváveis e impensáveis.
É mais ou menos assim:
“ É natural, faz sentido fazia muito tempo que eu não morava aqui”, a “faz sentido eu to para ficar menstruada de acordo com o mais novo app no meu telefone”
até o
“Sera que é a lua cheia, ou alguma conjunção planetária não favorável?.”
Eu respiro fundo e invento de subir mais uma parede. Ou então, dançar com mais um desconhecido. Leio poesia. Mudo meu status no WhatsApp para “I Ina Imani”. I Ina Imani que quer dizer em Swahili “Eu tenho fé”
Eu não falo Swahili, mas acho é a língua que soa mais bonita que eu já ouvi. Procuro a frase de em Inglês, que já me é distante, no Google tradutor (que não é humano) como se diria “ter fé”em Swahili. Ninguém quase nunca verá essa minha fé no meu status do Whats App… então ali, por muitos últimos dias “tenho tido fé” nâo sei bem em que, na língua que me soa mais bonita.
Fé, até agora, em segredo, e numa língua que eu nem sequer sei dizer “bom dia”. É o máximo de fé que eu consigo ter. Fé numa língua distante e escondida numa aparato tecnológico…. Mas eu estou precisando da tal fé, então me satisfaço com o absurdo do possível.
Vou ao show de tributo ao Miles Davis na Serralheria. Venho direto da escalada e sento sozinha muito antes que qualquer amigo meu apareça. Fico ali ouvindo e vendo na grande tela aquele homem, que eu não admiro como pessoa, ensandecido. Eu conheço aquele sentimento. Como é possível que toda aquela desorientação jazzística toque da maneira que toca a minha alma? Penso no quanto Fernando Pessoa às vezes me é familiar, e o quanto eu preferiria que fosse o Alyosha que eu entendesse na pele.
O meu silencio dura muitos e muitos minutos. Eu sou a única pessoa só ali, mas de repente um bonito homem, tbm só, quer saber por que eu estou la? E por que eu estou só?
Tenho que voltar do outro planeta onde eu estou para responder. Ele tem todo o cuidado. Ele, me observando ha tanto tempo, conhecia ate o meu ritual de colocar o esparadrapo no dedo já destruído pelas poucas semanas de escalada. As posições meio yogis que eu tinha me sentado. Sua primeira pergunta é
“ Vc quer ficar em silencio, vou te atrapalhar se eu falar com voce?”
Gosto do cuidado dele. Não veio me resgatar. Nem se quer veio porque pensasses o silencio um fardo.
E em pouco tempo percebo que ele escala, que já passou muitos meses na India e no Sudeste Asiatico. Não tem “imani” e nem é parte das suas preocupações diárias. E me surpreendo que nesse pequeno ato de reconhecimento alguma coisa ali dentro de mim se alivia. Benjamim me pergunta lá da Coreia “como eu estou”.
Penso na mil coisas que eu poderia dizer mas fica resumido em
“Tentando encontrar o tempo da delicadeza”
Benjamim que na casa do Nucleo já tinha delicadamente tocado uma flauta para me acalmar em todos os meus erros na minha própria canção. Depois de uma noite longa com cuidados e descuidados vendo sua resposta penso…
I Ina Imani que um dia o tempo da delicadeza há de chegar. Espero que nesse dia eu reconheça a delicadeza pelo que ela é, e que eu saiba ficar…