Das Diferencas Dos Muitos Parecidos

az tempo eu sei. E eis que uma dessas noites eu recebo uma mensagem da Renata uma “desconhecida que agora me conhece” e fico tao tocada que decido que tenho que escrever. Tao ironico isso. Marcelo Fiorini, ou Fortaleza Flores, que foi meu professor, de quem tanto ja falei, e hoje é querido amigo está sentado na cozinha aqui de casa junto comigo. Ele que morou com os Nambiquara por anos, responde ao Haiko qual o valor de fazer trabalho de campo. Psicologos e cientistas em geral, nao entendem muito bem, eu na minha pensada conversão ao mundo de cognição também penso o assunto pouco objetivo. Faz algumas semanas, eu fui jantar com o Dehaene depois de uma das palestras de cultura e cognicao que estão acontecendo na LSE.

Dehaene, que é diretor da Unidade de “Cognitive Neuroimaging” na INSERM-CEA, apresentou uma palestra sobre o que ele chama de” neuronal recycing”, simply put, o processo pelo qual “modulos” cerebrais se reciclam para fazer uma atividade ( nao selecionada pela evolucao) possivel. No caso dessa palestra, Dehaene falou de ler. A maioria dos antropologos que eu conheco fica horrorizada com fotos de cerebros, fMri e etc, assim que a platéia consistia na maior parte de psicologos, e cognitivistas. Depois da palestra tive o prazer de ir jantar com Dehaene, minha supervisora, alguns colegas, e a renomada psicologa de desenvolvimento Annette Karmiloff-Smith. Annette, dentre outras coisas trabalhou como tradutora da ONU, morou em diversos paises, e numa conferencia da WHO resolveu estudar psicologia. Trabalhou dentre outros com Piaget, e além de ser uma especialista em mental “disroders” como william syndrome, é uma critica de nativismo e modularidade. Ta isso ta ficando muito tec.nico. O ponto é que nessa noite, Haiko perguntou a Annette, que vem de um background completamente cientifico, psicologico, se ela achava que “field-work” era importante. Haiko conhece Annette pois trabalham no mesmo lugar, então sua pergunta era mais para ver o que alguem especialista numa area achava do metodo defendido por antropologos.

Annette, de quem eu gosto muito, respondeu de maneira cordial dizendo que nenhum metodo sozinho pode chegar a lugar algum. Lab studies sao importantes para chegar a conhecimento implicito, pq eh possivel controlar muitas variaveis, estasticamente significante. Ao mesmo tempo, field work and case studies are fundamental para entender as suas teorias. “Let me put that way, alone no method can tell you the truth, but if many different methods convey to same evidence, then you are getting somewhere.”

Entao nessa noite, eu que de certa forma, acabei “embodying” metodos mais psicologicos para chegar a conhecimento implictio, que sao consequentimente nao validos ecologicamente, insisti para que o Haiko perguntasse ao Marcelo como ele defenderia “trabalho de campo.” E o Marcelo, daquele jeito que é so dele, disse que um devia chegar ao trabalho de campo com perguntas, mas ficar tempo o suficiente para questionar as perguntas, depois questionar a propria endeavour. A pessoa devia deivar ter o tempo de passar pelo processo de se sentir perdido e achar que aquilo tudo nao faz sentido nenhum, para ai comecar a entender um pouco da maneira como esse outro grupo pensa. In a sense, é perdendo a objetividade que um chega a esse estado.

I pushed it. Perguntei se ele achava que as pessoas de diversas sociedades de fato concebiam distintamente. Sera que a maneria implicita como os nambikwara categorizam o mundo a sua volta é de fato fundalmentalmente distinta da maneira que nos concebemos. Expliquei que eu nao tinha duvidas que as “meta-representacoes” eram distintas, e que isso ja eh um mundo. Mas sera que as meta-representacoes afetam a estrutura. Sera que conteudo, afeta os processos? Sao perguntas é claro sem respostas.

Foi quando sentada a mesa, com o computador ao lado, resolvi mostrar um video do TED ao Marcelo. E eis que recebo a tal mensagem, de alguem que eu nao conheco mas que me deixa uma mensagem que me toca profundamente. Diz ter lido esse blog inteiro. Inteiro??? Como ela coloca “fica sentindo que me conhece sem me conhecer, sera que me conhece?”

Vou deitar, depois de muita filosofia, antropologia, cognicao, poesia, e eis que a mensagem da Renata nao me sai da cabeça. Ela leu me blog inteiro! Como será que eu sou no meu blog? Como será que eu mudei estes ultimos anos? Entao, eu volto la no começo do meu Blog. Lá em 2004. E começo a ler e para minha total surpresa percebo que na verdade eu nao mudei quase nada. Eu sempre acreditei que eramos os mesmo fundamentalmente, e que as variedades deviam ser preservadas. Um mundo multi-cultural tem que ser preservado , respeitado e apreciado! Nao podemos ter a ilusao e arrogancia de achar que o muito recente conhecimento cientifico ocidental tem as respostas para todas as nossas perguntas. Nao podemos sentar passivamente assistindo a destruicao das milhares de linguas e culturas (criadas a partir da nossa “shared evolved cognition”) achando que se todo mundo falasse a mesma lingua o mundo seria melhor.

Nao seria! O mundo fica melhor quando aprendemos a lingua do outro, a cultura do outro, dividimos a nossa, e compreendemos as limitacoes da nossa lingua, do nosso campo de trabalho, da nossa “cultura”. E fica melhor tambem quando compreendemos que apesar das limitacoes de um unico sistema, esse sistema is underlined pela nossa capacidade cognitiva universal. Marcelo, um pouco antes de eu dormir, me diz que se eu quisesse fazer meu trabalho de campo de doutorado na Amazonia podia me colocar em contato com umas 30 tribos distintas ainda sabendo que a minha pesquisa tenta responder questoes cognitivas. E aí fica claro para mim: façamos as duas coisas. Façamos o trabalho de campo passsemos pelo dificilimo processo de nao entender nada, mas o fato qeu eventualmente começamos a compreender o outro, é evidencia forte para mim, que dividimos muito do mesmo. Entao, lutemos pela preservacao da diversidade, respeitemos os limites das nossa disciplinas, e sejamos um pouco mais humildes, para usar quem sabe metodos interdisciplinares. Biologia, cognicao, na antropologia. Antropologia, e psicologa na medicina. Mas ainda mais importante, usemos o proverbo truco do vizinho de Istanbul, ou Confucius na hora que encontrarmos as limitacoes da nossa propria filosofia. Respeitemos e apreciemos a diversidade cultural. Permitamos que a cultura do outro nos faça questionar a nossa. Façamos tudo isso mas sem jamais esquecer que no fundo, somos todos muito parecidos.

ps: Renata, muito obrigada pela sua mensagem! Nao so ela me tocou profundamente, mas tbm me levou a pensar em muitas coisas. Obrigada.

2 thoughts on “Das Diferencas Dos Muitos Parecidos

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