Aqui em Lima, como no norte da África e Oriente Médio todo dia me perguntam se tenho filhos. A explicação de que não tenho, vem sempre com uma pergunta do outro lado.
Engraçado porque em Londres ninguém me perguntava. No entanto, de tanto ir para o norte da África e Oriente Médio e América Latina sempre quero responder a verdade. “ Nunca quis” Desde os 25 me falam da vontade que viria.
Não veio aos 26. 27, 28,29, 30 e nem aos 34 -35. Claro que pode mudar, só que não mudou. Insistem e eu explico porque meu pai sempre me disse que não queria ter filho, teve porque minha mãe queria. Ou seja, na minha casa nunca teve gente pedindo para neto.
Não me dou bem com meus pais. Não por isso. Por razoes politicas e opinião de vida e de mundo fundamentalmente distintas… mas de uma coisa sou grata por eles terem me criado assim, não com discursinho de família, tipo da câmara.
Isso me fez completamente vinculada a seres humanos, sejam eles de que classe, pais, nacionalidade sejam. Vivi em muitas cidades. Portanto isto também desfaz o materialismo porque tudo que tenho é temporário. Meu pai também dizia que hoje em dia nunca colocaria uma pessoa a mais no mundo.
Nisso eu concordo. O mundo é superpopuloso. Na minha versão se mudar de ideia, e quisesse ter um filho, adotaria. Tem muita gente que precisa de casa e de amor. Conheço algumas pessoas que de fato se dedicam aos seus filhos porque realmente entende a dimensão do que significa ter um filho.
Depois de ter voluntariado com criança na Ásia e na Europa e passado tempo no Brasil percebo o tanto que gosto de crianças.
Eu diria que a maior parte não destina nada de tempo aos filhos. E às vezes vejo que as pessoas mais pobres dão mais atenção. Os filhos dos mais ricos ficam com babás e avós e as pessoas que viram babás deixam seus filhos com a mãe.
Algumas pessoas aqui em Lima trazem seu filho para o trabalho e eles brincam quando a mãe trabalha.
Por isso não me choca tantas crianças de família mais rica usando Pokémon (feito por espião) e que cresça na velocidade que cresce. Quantas pessoas vemos na rua completamente alienadas pelos seus telefones. O argumento chega até ser “bom pelo menos meus filhos estão andando mais.”.
Então, sim todo mundo tem filho, trabalha para comprar os brinquedos, os telefones e assim se separam um diante do outro. Alias isso também se passa com adultos.
Em Israel me falavam tanto da importância do sangue, de eu buscar minhas raízes judaicas por ser Toledo área tao judaica e da importância de voltar ao judaísmo e mudar para Israel. Imagina? E então colocar o filho no IDF?!?!?
Passei a inventar que não era fértil. Não funciona. Só sei que então vem então a reza. A pessoa quer rezar para vc engravidar.
Aqui em Lima eu estava meditando do lado do mar quando um senhor vem falar comigo e acaba virando dessa vez um processo de evangelização. Ainda bem que o Andre chegou e ouviu também e ele então pediu para que nos aceitássemos sua reza. Numa parte eu teria que dizer “me aceito evangélica.”
Disse a esse senhor que não tinha chance porque eu não era e nem queria ser evangélica. Ele apela ao medo. E se o seu marido sair com outra mulher ?
“Tudo bem. Ele é livre. E o senhor o que pensa dos homossexuais? “
Se descontrola e diz que estão no inferno. E eu tentando sempre ser cordial tento ser amigável no adeus mas a pregação de ter filho, de ser evangélico não acaba.
Chego em casa ouvindo um barulho. Apelo a reza ao deus de tudo e digo.
“Deus, Deusa além da concepção da humanidade que aceita todos a despeito de língua, religião tire esse espirito do mal de perto de mim. “
Eu não acreditava muito em espíritos mas sei que esse homem ficou transformado, falando com além e era carregado de discurso tão conhecido. Seja pelo deus do além ou o sono o barulho se foi.
Tenho vontade de ir logo ao Iran antes que ele não esteja mais lá como se passou com Alepo que perdi por hesitação trivial. Pensando que tudo é possível a qualquer momento. E eu que conheço tantos muçulmanos confesso que tenho muito mais medo da Republica Evangélica do Mercado e Agronegócios Brasil do que do Iran.
Sempre fui de fora. Até em São Paulo eu sou de fora. Quem morou muito tempo fora do Brasil entende isso. Então confesso que para republica evangélica eu não volto. Teve uma frase boa do meu pai. “Você não quer ter filho porque você não faz contrato que não pode ser quebrado.”
De fato, filho é uma coisa séria de alto valor. Como diria minha avó “Adultos não imaginam o tanto que uma criança sente e pensa.”
Filho pode ser que um dia venha a tal vontade. Disso eu não tenho certeza mas uma certeza eu tenho a Republica Evangélica do Mercado e Agronegócios Brasil eu não apoio. Não quero voltar.
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Julieta de Toledo Piza Falavina