Um amigo meu me disse uma vez “deve ser exaustivo ser você, seu sistema empático é forte demais.” Eu ri. Provavelmente porque ele tava rindo, se tivesse chorando provavelmente eu teria chorado. Sera realmente tudo culpas dos neurônios espelho, de um sistema empático muito forte, ter nascido na América do Sul? Sei la. Tudo isso misturado e provavelmente mais um monte de coisa que eu devo ter deixado esquecida.
Eu to no Rio. E eu sinto demais. É quente demais. Os re-encontros são profundos demais, até os novos encontros me movimentam demais. Um outro amigo, tbm antropólogo me disse Tel Aviv e Rio são parecidas. Ele que morou tbm em Beirute acha isso de la tbm. Quanta intensidade. As coisas no Rio são exageradamente bonitas, e caóticas. Exageradamente para mim as vezes um pouco superficiais. Não digo isso como Paulistana que desgosta do Rio. Eu acho que essa superficialidade que eu encontro aqui ta la nos shoppings, nas boates, nas ruas do Jardim. Coexistindo tbm um milhão de outros mundos…pq nessas cidades caóticas tudo coexiste lado a lado.
Fellipe, me levou para ver o ultimo filme “secreto” do Eduardo Countinho. Foi no Instituto Moreira Salles, e foi secreto pq o filme é inteiro sobre um dia na TV aberta brasileira. Antes de escrever aqui pensei e fui fazer uma pesquisa para ver quao secreto esse filme era, afinal eu tbm nao quero que o Coutinho seja processado. Quem quiser ler informações aqui estão.
Eu nunca assisto televisao. Alias nao tenho uma televisao. Entao um filme inteiro de clipes da TV aberta foi particularmente dificilimo para mim. Nao pelo conteudo pq nao me surpreende tanto o que esta na TV brasileira. Tudo isso é sabido. É sem duvida um retrato assustador da sociedade brasileira. Eu tao pouco achei muito especial. POdia ao me ver ter sido um projeto de escola. Enfim, eu assisti o filme e quando ele acabou e o painel de discussao começou eu estava curiosa para ver o que as pessoas diriam. E o que o Coutinho dizia.
Ele disse muito, mas eu achei que não disse quase nada. Disse que não adianta fingir que a TV não esta aí que nos precisamos entender o porque tem tanto poder. O que as pessoas que assistem pensam. Que precisava ser feito um trabalho serio. Eu calada pensava dentro de mim: Então façam, vcs estão falando de um estudo antropológico mande alguém numa comunidade e observem as pessoas ver tv, ouçam o que elas tem a dizer… idealmente façam testes implícitos. Isso é claro da bem mais trabalho.
Depois ele disse que precisávamos entender porque esses programas tinham tanto sucesso. Uma vez mais a chata acadêmica dentro de mim pensava ” ué…. testa… coloca algum num mri, num eeg…poe os programas. Investiga, tenham perguntas empíricas. Teste-as. Nao é difícil de ter proposições. Todos esses programas devem “play” em tendencias muito ingrained muito ligadas a nossa estoria evolucionaria.
Como sempre a grande pergunta para mim é o quanto estimular essas tendencias realmente muda alguma coisa. Isso tbm é uma pergunta empirica. Ou melhor, o quanto conteudo afeta estruturas cognitivas. Eu acho que é muito importante entender o homem como ele é como todas essas tendencias a categorizar, essencializar, gostar do seu grupo mais do que o outro, querer ser belo, etc etc etc… para que possamos desenvolver melhores sistemas educationais, planos politicos, filosofias.
Colocar la um filme com varios pedacos de TV eu acho que faz muito muito muito pouco. Ainda tem uma certa parte da experiencia que faz o espectador ali na sala do IMS se sentir tao dierente tao distinto das massas. Nao é. Nao somos.
Quando eu estava na Lapinha a Maluh, uma mulher excepcional que trabalha em um milhao de projetos artísticos e de paz criou uma atividade. Ela nos ensinou a fazer uma lanterna de cartolina de sao joao. Fizemos todos juntos numa sala. Nos que nao nos conhecíamos fomos trocando material, ajudando uns aos outros, nos concentrando na execução de um coisa nova. A noite, ascendemos nossas lanternas.
Maluh propôs uma caminhada em silencio. Que observássemos a luz. Fomos em silencio pelos arredores da Lapinha. Ouvindo os sapos, e diferentes ruídos pela noite. Um exercício tao filosófico. Não dá para olhar para a própria luz, você tem que olhar para a pessoa da frente. A sua luz ali na cara ofusca.. ela tem que ficar meio de lado, iluminar o caminho do outro. Caminhamos em silencio. E aquela brincadeira em segundos virou um ritual.
Meu primo de 11 anos tomou a dianteira. Ele que adora computadores e internet estava no ritual dele. Andando guiando, uma senhora de 74 anos também estava no ritual dela. NO ritual nosso. Ao final. nos juntamos para dizer um pouco do que tinha acontecido. Todo mundo tinha algo para dizer.
Eu agradecia a Malu porque ali naquele instante, eu lembrei de uma coisa preciosa. Nos temos todas essas tendencias. A tendencia a ter liberações químicas e aditivas quando assistindo programas de TV ruim, e tendencia de criar um ritual magico. A Maluh me contou que quando foi fazer um projeto na Febem levou tinta para os meninos pintarem. Eles la com toda aquela bagagem pintaram coisas lindas, coloridas. Acho que tudo isso eh para dizer isso. O retrato da TV brasileira diz um pouco sobre nossa sociedade. Não muito. Nossas tendencias são muitas. Estimulemos as que nos torna mais sociais, e mais humanos.
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